O projeto tem a duração de três anos e a população prisional foi a primeira a ser abrangida pelas sessões de trabalho com Patrícia Amaral, mediadora cultural do Teatro das Figuras, que levou a capacitação e expressão dramática a um grupo de reclusos que chegou a um máximo de 30 pessoas, contou a própria à agência Lusa.
Patrícia Amaral fez um balanço muito positivo do trabalho realizado com os reclusos no âmbito do projeto “Os Invisíveis”, que se vai prolongar até 2027 e abranger também a população migrante e os idosos em situação de isolamento, salientou à Lusa, por seu turno, o diretor do Teatro das Figuras, Gil Silva.
Patrícia Amaral assumiu a coordenação do projeto e a mentoria das sessões com os reclusos, que uns dias participavam e outros não, uma vez que a presença não era obrigatória.
“Há duas semanas fizemos uma apresentação da peça que eles prepararam durante as sessões. Foi uma coisa muito simples, mas as sessões vão continuar até dezembro, agora já sem nenhuma pressão, para divertirmo-nos”, disse a mentora, salientando a importância de continuar a trabalhar junto da população reclusa, mesmo após o fim do projeto.
“Essa continuidade não fará parte do projeto ‘Os Invisíveis’, Terá de ser encontrado um outro modelo. Será o Teatro das Figuras a coordenar, mas usando associações civis”, adiantou, referindo-se ao modelo que poderá ser adotado para prosseguir o trabalho no Estabelecimento Prisional de Faro.
O diretor do teatro municipal de Faro, Gil Silva, destacou que o projeto “Os Invisíveis” insere-se na “prática do Teatro” das Figuras de “levar a cultura a pessoas, a pessoas que normalmente não têm acesso a ela, ou têm um acesso diminuto, restrito”.
Com este trabalho é possível “capacitar estas pessoas” e abrir-lhes “uma nova janela de oportunidade, mostrando-lhes que há outros caminhos que podem seguir”, considerou Gil Silva.
“A arte pode ser também um fator de inclusão na sociedade, e é nesse sentido que nós também vemos estes projetos e adotamos esta linha também na nossa programação”, justificou o diretor do Teatro das Figuras.
Apesar de ter havido sempre uma participação “muito flutuante” devido às atividades serem voluntárias, Patrícia Amaral chegou a contar com 15 pessoas em simultâneo nas sessões, embora apenas quatro tenham integrado o “grupo sobrevivente”, que apresentou internamente na prisão uma peça criada com base no trabalho realizado durante as aulas e o período de isolamento nas celas.
A peça falou “sobre a vida na prisão” e os reclusos “acabaram por construir eles próprios uma pecinha de teatro muito interessante”, considerou, sublinhando que todos viveram a experiência “muito intensamente”, mostraram ser “bons atores” e um deles pediu até informação sobre escolas de arte para poder seguir por esta área no futuro.
“Mas mais do que seguir o teatro como profissão potencial, até porque o teatro é muito mais do que o palco, isto serviu para lhes dar momentos de evasão. E esta foi uma tónica, eles próprios diziam isso”, salientou Patrícia Amaral.
Lusa




