Créditos: Esfera das Ideias
RASTREIO DO CANCRO DA PRÓSTATA: A REALIDADE EM 2025

15:27 - 26/11/2025 OPINIÃO
Dr. Tiago Oliveira, Coordenador do Serviço de Urologia do Hospital Lusíadas Vilamoura. Head do Grupo de Trabalho de Trato Urinário Inferior da European Association of Urology. Membro do Grupo de Trabalho de Cirurgia Laparoscópica da European Association of Urology. Tutor internacional em Laparoscopia no programa europeu de formação prática (EUREP).

O tumor da próstata, ou cancro da próstata, é a neoplasia maligna que tem origem na próstata (a glândula masculina localizada na cavidade pélvica, abaixo da bexiga e à frente do reto), sendo um dos mais importantes diagnósticos oncológicos no sexo masculino. Efetivamente, com cerca de 900.000 casos anuais, o cancro da próstata é a segunda neoplasia mais frequente a nível mundial. Para além disso, apesar de muitos cancros da próstata terem uma evolução indolente, alguns, nomeadamente os que ocorrem em homens jovens, podem ter um comportamento agressivo e serem resistentes aos tratamentos. Na realidade, o cancro da próstata assume-se como uma das mais frequentes causas de morte por neoplasia a nível mundial, estimando-se que cerca de um terço dos doentes com cancro da próstata venha a falecer da doença.

O principal fator de risco para desenvolver um cancro da próstata é a idade. No entanto, apesar de o risco de desenvolver um cancro da próstata ser diretamente proporcional à idade, quanto maior a idade na altura do diagnóstico menor a probabilidade de se tratar de uma doença agressiva e de se vir a morrer da mesma. Para além disso, a história familiar apresenta-se como segundo fator de risco mais importante. O risco de desenvolver um cancro da próstata é duas vezes maior com o pai com cancro da próstata, três vezes maior com um irmão com cancro da próstata e cinco vezes maior com dois familiares em primeiro grau com um cancro da próstata. Para além do número e proximidade dos familiares, também a idade dos mesmos aquando do diagnóstico é importante, sendo o risco duas vezes maior se estes tiverem sido diagnosticados antes dos 65 anos. Uma vez que os principais fatores de risco (idade e história familiar) não são modificáveis, infelizmente não existe neste momento qualquer recomendação que possa ser feita relativamente a medidas que possam prevenir um cancro da próstata.

Apesar de, como todas as doenças prostáticas, o cancro da próstata poder dar origem a sintomas urinários (como diminuição do jato urinário, dificuldade em iniciar a micção, micção interrompida, sensação de esvaziamento incompleto, gotejo após terminar a micção ou sangue na urina), estes sintomas são mais frequentes devido à hiperplasia benigna da próstata. Por outro lado, os sintomas urinários só se desenvolvem numa fase mais tardia da doença, pelo que não são eficazes para diagnosticar um cancro da próstata. Por este motivo, a presença de sintomas não pode ser utilizada como fator principal para desencadear um processo de diagnóstico de cancro da próstata.

Neste contexto, recentemente foram publicados os resultados do mais importante estudo internacional multicêntrico sobre rastreio do cancro da próstata, realizado em mais de 160.000 homens de 8 países europeus, o European Randomized Study of Screening for Prostate Cancer. Neste estudo, com 16 anos de seguimento, verificou-se que o rastreio conduziu a um aumento dos diagnósticos em fase inicial e a um menor risco de doença avançada, o que conduziu a uma diminuição da mortalidade por cancro da próstata. Para além disso, verificou-se que a população que é necessário rastrear é inferior à que foi utilizada para justificar a realização de rastreio de cancro da mama. Por estes motivos, a Comissão Europeia passou a recomendar a implementação de programas de rastreio de cancro da próstata de nível populacional nos vários países europeus.

Atualmente, a recomendação da Associação Europeia de Urologia é iniciar o rastreio em todos os homens aos 50 anos de idade, ou aos 45 anos de idade nos casos em que existem fatores de risco. A estratégia proposta é a de utilizar marcadores como o PSA (antigénio específico da próstata) e o toque retal, para estratificar o risco de cancro da próstata e definir quais os homens que devem realizar ressonância magnética e posteriormente biópsia dirigida.