Mais de 10 mil homens vítimas de crime ajudados pela APAV nos últimos três anos

09:12 - 15/10/2025 ATUALIDADE
O número de vítimas masculinas apoiadas pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) aumentou mais de 23% nos últimos três anos, totalizando 10.261 pessoas, sobretudo vítimas de violência doméstica, mas também centenas de casos de crianças abusadas sexualmente.

De acordo com as estatísticas da APAV sobre “Vítimas no Masculino”, a que a Lusa teve acesso, entre 2022 e 2024, 10.261 pessoas precisaram do apoio da associação, registando-se um aumento de 23,3% na evolução desses três anos.

O número tem vindo gradualmente a aumentar, registando-se 3.013 vítimas masculinas em 2022, 3.532 em 2023 e 3.716 em 2024, o que significa que, em média, a associação prestou apoio a nove vítimas masculinas por dia.

Para Daniel Cotrim, assessor técnico da direção da APAV, este aumento explica-se com o facto de haver mais informação e sensibilidade de todas as pessoas para o tema da violência, o que eleva o número de denúncias.

“É um fenómeno que nós temos vindo a verificar nos últimos anos, de uma subida do número de denúncias de homens relativamente a situações de vitimação, portanto estes dados de alguma forma manifestam exatamente essa tendência, de crescimento do número de pedidos de apoio de homens. Há uma maior consciencialização”, salientou.

A maioria das vítimas são homens adultos e representam 40,6% do total, estando aqui incluídas as pessoas com idades entre os 18 e os 64 anos.

No total dos três anos, a APAV apoiou 4.167 adultos, o que representa uma média de 116 pessoas por mês ou quatro por dia.

O segundo grupo mais representado é o das crianças e jovens, com idades entre o zero e os 17 anos, tendo-se registado 3.556 vítimas (34,7%) que recorreram à APAV, o que significa que a associação apoiou, em média, três crianças e jovens por dia.

Houve também registo de 1.136 homens idosos (11,1%), o que dá uma média de 32 por mês, sete por semana e um por dia, além de 1.402 (13,6%) pessoas de quem não há registo de idade.

No que diz respeito aos crimes e formas de violência de que foram vítimas, os dados da APAV mostram que a violência doméstica é o crime que destaca, registando-se 11.906 crimes, aparecendo em segundo lugar os 885 crimes de ofensa à integridade física.

O terceiro lugar do top 6 é ocupado pelos 731 crimes de ameaça e coação, aparecendo depois 570 crimes de injúria/difamação, 400 crimes de burla e 331 crimes de abuso sexual de criança.

Especificamente em relação a este último, Daniel Cotrim explicou que as denúncias surgem por três vias: através de familiares – “sendo que na grande maioria das situações, em 90% das situações, o abuso sexual ocorre no contexto familiar” – pela Polícia Judiciária, autoridade policial responsável pela investigação de crimes sexuais, e pelas escolas ou outras entidades, mas em menor número.

No total, a APAV registou 17.279 crimes no decorrer destes três anos, o que representa um aumento de 19,8% entre 2022 e 2024.

A associação explica que a diferença entre o número de crimes e formas de violência (n=17.279) e o número de vítimas no masculino (n=10.261) tem a ver com o facto de uma vítima poder ser alvo de múltiplos crimes e formas de violência simultaneamente.

Relativamente à caracterização da vítima, a maioria (77,7%) é de nacionalidade portuguesa, contra 12,1% estrangeira e 10,2% sobre os quais não há informação, e vive nos distritos de Faro (20,2%), Lisboa (16,7%), Porto (10,8%) e Braga (9,6%).

Em quase 50% dos casos há uma relação de grande proximidade entre agressor e vítima, uma vez que em 21,8% dos casos a pessoa agressora é pai/mãe ou madrasta/padrasto da vítima, em 21,2% está ou esteve numa relação de intimidade com a vítima, havendo ainda 5,1% de casos em que o agressor é filho/a da vítima.

Um fenómeno explicado, segundo Daniel Cotrim, pelo facto de a violência doméstica ter sido o principal crime denunciado, com registo de 11.906 crimes no decorrer dos três anos, o que pressupõe um “contexto de intimidade” entre vítima e agressor/a.

É também a violência doméstica que explica que haja 36,6% de vítimas alvo de violência continuada e a demora em pedir ajuda, com registo de 29,8% de vítimas que demoraram entre dois e seis anos até pedirem ajuda à APAV pela primeira, e outras 10,9% que precisaram de 12 ou mais anos.

Segundo Daniel Cotrim, esta demora na apresentação da denúncia tem a ver com o ciclo de violência, mas também com “a dificuldade que [os homens] têm em perceber que isto lhes está a acontecer”, além do estigma e da vergonha associadas.

 

Lusa