De 28 de setembro a 7 de outubro, o histórico veleiro Santa Maria Manuela será palco de uma campanha científica e educativa sem precedentes, dedicada ao Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado.
Liderada pela Fundação Oceano Azul, o Oceanário de Lisboa e o CCMAR - Universidade do Algarve, com o apoio do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, dos municípios de Albufeira, Lagoa, Silves e Portimão, da Marinha Portuguesa e dos órgãos e serviços da Autoridade Marítima Nacional, a APS - Administração dos Portos de Sines e do Algarve e organizações locais, a iniciativa junta ciência, envolvimento da comunidade e ações educativas para transformar a proteção desta área marinha em realidade efetiva.
Criado em janeiro de 2024, o Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado é a primeira Área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária em Portugal, tendo resultado de um processo participativo inédito. Hoje, esta área marinha é símbolo de resiliência e cooperação, um exemplo de como soluções locais construídas com parcerias sólidas podem tornar-se políticas públicas com impacto nacional.
Desde 2018, o CCMAR, a Fundação Oceano Azul, os Municípios de Albufeira, Lagoa e Silves, a Junta de Freguesia de Armação de Pêra, a Associação de Pescadores de Armação de Pêra e o ICNF têm liderado o processo de criação desta Área Marinha Protegida, promovendo a recolha de informação científica e a participação ativa de pescadores, autarquias, associações locais e cidadãos. Pela primeira vez no país, uma Área Marinha Protegida foi construída “de baixo para cima”, num modelo de gestão colaborativa que integra utilizadores, gestores e comunidade.
A Campanha Recife do Algarve marca um novo passo neste caminho.
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De 28 de setembro a 1 de outubro, o foco estará na literacia do oceano e envolvimento da comunidade, com atividades educativas para o público e escolas locais, a bordo do navio Santa Maria Manuela em Portimão, dinamizadas pelo Oceanário de Lisboa, e organizações locais como a AIMM, a Teia d’Impulsos, a SOMAR e o Centro Ciência Viva de Lagos.
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De 2 a 7 de outubro, arranca a primeira campanha científica de monitorização do Parque, liderada pelo CCMAR, que também terá a participação de organizações não-governamentais como a SPEA e a AIMM, responsáveis pela observação de aves marinhas e cetáceos, e com investigadores de diversas áreas a mapear habitats prioritários, recolher dados ambientais e avaliar o estado de conservação do recife, um ano e meio após a criação da Área Marinha Protegida.
“Queremos reforçar que o Parque Natural Marinho não deve existir apenas no papel, mas que deve funcionar, gerar conhecimento, proteger a biodiversidade e assegurar o futuro das comunidades locais. O envolvimento da comunidade e a excelência científica são a base desta missão”, afirma Diana Vieira, responsável na Fundação Oceano Azul pela Campanha Recife do Algarve e Gestora de Projetos.
Esta campanha científica dá continuidade ao trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos e tem dois objetivos centrais: gerar informação atualizada para orientar os próximos passos da conservação e devolver à comunidade um plano de gestão eficiente e concertado.
A missão mobiliza uma equipa multidisciplinar de investigadores, peritos em ecologia marinha, pescas, biodiversidade, oceanografia, tecnologia marinha e literacia do oceano. Entre as atividades previstas estão o mapeamento de habitats prioritários como gorgónias, pradarias marinhas, jardins de corais e bancos de algas calcárias (Maerl); a monitorização ambiental com recurso a câmaras subaquáticas, ADN ambiental, acústica, observação de aves e mamíferos marinhos; e a utilização de plataformas tecnológicas inovadoras como ROVs (Veículos Operados Remotamente), AUVs (Veículos Subaquáticos Autónomos), drones e mergulho científico.
A informação recolhida nesta campanha vai apoiar diretamente a elaboração do Programa Especial e do Regulamento de Gestão do Parque Natural Marinho, avaliar as mudanças na biodiversidade e nos usos humanos, consolidar o modelo pioneiro de gestão comunitária e contribuir para metas globais de conservação, como o objetivo 30x30 (proteger 30% do oceano até 2030).
“O CCMAR vai mobilizar investigadores de diversas áreas para recolher dados essenciais que permitirão avaliar o atual estado do ecossistema e, ao mesmo tempo, orientar as medidas de gestão a implementar, para que esta área marinha seja verdadeiramente e eficazmente protegida”, partilha Jorge Gonçalves, investigador do CCMAR e Coordenador da Campanha Científica.
A Pedra do Valado, localizada entre a Marina de Albufeira e o Farol de Alfanzina, é o maior recife rochosos costeiros do país, habitat de mais de 1.050 espécies, entre as quais se destacam os emblemáticos cavalos-marinhos e o mero. Para além do seu valor natural, sustenta atividades essenciais como a pesca artesanal e lúdica e o turismo marítimo, representando mais de 1.600 empregos diretos e um impacto económico superior a 48 milhões de euros anuais.
A Pedra do Valado volta, assim, a ser palco de uma história maior: a união entre ciência, gestão e comunidade na proteção de um património natural que pertence a todos.
JLM&A