André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.comAndré Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
Face à proximidade das eleições autárquicas, o trabalho que a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) divulgou no passado mês de setembro, o mais recente Barómetro do Poder Local, assume grande pertinência e oportunidade. Apresenta um retrato detalhado das perceções, motivações e prioridades dos cidadãos face às autarquias. O estudo, baseado em 1.070 entrevistas representativas, oferece pistas valiosas sobre o que realmente importa aos eleitores e como estes avaliam o desempenho dos seus representantes locais. Em primeiro lugar, as principais motivações de voto:
Prevalência da personalização sobre ideologia, em que mais de 60% dos eleitores afirmam que o desempenho da câmara e as características pessoais dos candidatos pesam mais do que a filiação partidária; a Integridade Ética como fator decisivo, sendo a ética o atributo mais valorizado na escolha de um presidente de câmara (27%), seguido pela orientação ideológica (23,7%) e estilo de liderança (18,3%), com as candidaturas independentes em ascensão. A emergência de listas de cidadãos reflete uma preferência crescente por candidatos com reputação e ligação comunitária, em detrimento da fidelidade partidária. Em segundo lugar, as Prioridades dos Cidadãos para o poder local, sendo valorizados serviços públicos de qualidade e baixo custo, significando que a principal missão atribuída às autarquias por 51% dos inquiridos é garantir serviços eficientes e acessíveis; mais Influência em Saúde e Habitação, em que 80% dos portugueses defendem maior intervenção municipal nestas áreas, especialmente em contextos urbanos onde a pressão é maior; Segurança e Mobilidade, em que nas zonas como a Grande Lisboa, há uma exigência crescente por maior envolvimento das câmaras municipais na segurança pública, ultrapassando até áreas como educação e transportes. Em terceiro lugar, a Literacia Institucional e Participação Cívica, relevando-se o baixo conhecimento sobre instituições regionais. Apesar do apoio à descentralização (62%), muitos cidadãos desconhecem as competências das CCDR, áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais; a Participação Limitada, em que 54% dos inquiridos nunca participaram em reuniões ou eventos promovidos pelas autarquias, revelando uma democracia local ainda centrada na delegação de poder. Em quarto lugar as Diferenças Territoriais: Municípios não urbanos mais satisfeitos, em que 41% dos residentes em zonas rurais estão satisfeitos com a democracia local, face a 35% nas áreas urbanas; Fontes de Informação Distintas, relevando que os urbanos recorrem a redes sociais e media nacionais, ao passo que os não urbanos confiam mais em relações de proximidade e meios locais; o Algarve e Grande Lisboa revelam-se menos satisfeitos. Estas regiões apresentam os índices mais baixos de aprovação ao poder local, contrastando com o Oeste, Vale do Tejo e Centro.
Em conclusão, o Barómetro da FFMS evidencia. uma cidadania exigente, mas ainda pouco participativa. Os eleitores valorizam líderes locais com ética e eficácia, desejam maior autonomia municipal em áreas críticas como saúde e habitação, e demonstram uma clara preferência por soluções adaptadas às realidades regionais e locais. Para os candidatos às autárquicas, o recado é claro: mais do que partidos, contam as pessoas e o impacto concreto das suas ações.