Portugal continua a enfrentar um dos maiores desafios de saúde pública: o controlo eficaz da hipertensão arterial (HTA).
Apesar de alguns avanços importantes, o país está ainda aquém dos resultados desejados no combate a esta “doença silenciosa”, que continua a ser uma das principais causas de morte e incapacidade, tanto a nível nacional como global.
A hipertensão arterial (HTA) continua a ser uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo, e o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares. Segundo o Global Report on Hypertension da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2023, estima-se que Portugal tenha cerca de 2,7 milhões de adultos entre os 30 e os 79 anos com HTA . O controlo eficaz desta condição crónica frequentemente assintomática, mas com elevado risco de complicações como enfarte, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal é um dos grandes desafios globais — e Portugal ainda está longe de controlar eficazmente a doença.
Estudo GPHT-PT: primeiros resultados mostram avanços, mas há espaço para melhorias
O estudo GPHT-PT, conduzido pelos médicos Jorge Polónia, consultor de Medicina Interna na ULS de Matosinhos e professor catedrático da FMUP, e Raul Marques Pereira, especialista de Medicina Geral e Familiar na ULS do Alto Minho, revelou que uma abordagem baseada nas guidelines internacionais e no seguimento próximo dos doentes pode levar a uma taxa de controlo da HTA de até 82% em cuidados de saúde primários .
Estes resultados foram publicados na revista científica Blood Pressure (2024) e demonstram que é possível melhorar significativamente o controlo da HTA em Portugal, quando se aplicam estratégias terapêuticas estruturadas. Contudo, o estudo também evidencia que menos de metade dos doentes hipertensos em Portugal estão medicados, e apenas 11,2% têm a pressão arterial controlada5, embora estudos como o PHYSA apresentem um controlo um pouco melhor (42%). Ainda assim a maioria dos doentes não está devidamente controlada o que sublinha a necessidade de uma resposta mais robusta e uniforme por parte do sistema de saúde.
Nova fase do estudo já em preparação
Dada a importância dos dados obtidos, encontra-se já em preparação a segunda fase do estudo (GPHT-PT) , que irá continuar a acompanhar os mesmos doentes para avaliar a eficácia das intervenções implementadas. Esta nova etapa será uma oportunidade para transformar os bons resultados em boas práticas sistemáticas em todo o sistema de saúde, reforçando a equidade e a eficácia do controlo da HTA em Portugal.
“Este trabalho reforça o papel da medicina geral e familiar e da organização dos cuidados de saúde primários na resposta à HTA. A estratégia deve continuar a apostar na educação para a saúde, nos rastreios e na adesão à terapêutica”, afirma o Prof. Jorge Polónia.
Embora não tenha cura, a HTA pode ser eficazmente tratada e controlada com recurso à terapêutica adequada e à adoção de estilos de vida saudáveis. As autoridades de saúde recomendam:
• Não fumar
• Reduzir o consumo de sal
• Praticar atividade física regularmente
• Evitar o consumo excessivo de álcool
• Manter um peso saudável
Estas medidas, associadas ao acompanhamento médico e à adesão à medicação, são fundamentais para reduzir o risco de complicações.
A HTA em Números
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a tensão arterial resulta da força que o sangue exerce sobre as paredes das artérias. A hipertensão arterial é definida por valores de pressão arterial iguais ou superiores a 140/90 mmHg e, na maioria dos casos, desenvolve-se de forma assintomática, o que dificulta o seu diagnóstico precoce. Trata-se de uma doença “silenciosa” que pode aumentar significativamente o risco de enfarte do miocárdio, AVC e insuficiência renal.
Os principais sintomas — quando surgem — incluem dores de cabeça, tonturas, zumbidos nos ouvidos, palpitações, dor no peito e falta de ar. O risco agrava-se na presença de outros fatores como diabetes, obesidade ou sedentarismo.
Apesar da sua elevada prevalência, menos de metade dos doentes estão medicados, e apenas 11,2% dos doentes hipertensos têm a sua pressão arterial devidamente controlada, segundo dados da Direção Geral de Saúde (DGS). Estudos como o PHYSA mostram um controlo um pouco melhor (42%), mas ainda assim a maioria dos doentes não está devidamente controlada. Estes números reforçam a urgência de continuar a investir em estratégias de prevenção eficaz, rastreios regulares e acompanhamento clínico rigoroso.
O combate à HTA exige uma atuação coordenada entre profissionais de saúde, decisores políticos e cidadãos. “Meça a sua pressão arterial, fale com o seu médico e adote um estilo de vida saudável. Controlar a pressão arterial é proteger o coração e o futuro”, reforça o Prof. Jorge Polónia, sublinhando o papel ativo que cada cidadão pode ter na prevenção da HTA.
Por: Tinkle