André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
A recente conferência do “European Council on Foreign Relations (ECFR)”, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, intitulada "Brave New Disorder" (Nova Era da Desordem), teve como foco principal os impactos do retorno de Donald Trump à presidência dos EUA sobre a Europa e a ordem internacional. Na verdade, o que muitos especialistas deduzem da visão e das políticas de Trump em relação à nova ordem internacional, é que este acredita num mundo mais seguro dominado pelas grandes potências em termos político-estratégicos, isto é, os EUA, Rússia e China. Estes poderão “repartir” o mundo em esferas de influência. E, neste campeonato, a Europa, supostamente composta por países decadentes, que se constituíram para tirar proveito dos EUA, conta muito pouco, como refere Teresa de Sousa (Jornal Público: 2025.06.01). É, neste novo contexto internacional, que existe para a Europa, uma janela de oportunidade no meio da crise, se para tanto conseguir construir, em tempo útil, o seu “hard power”, em matéria de segurança e defesa, que é frágil, já que o seu “soft power” e, sobretudo, a sua economia conferem-lhe um estatuto de player internacional relevante. Aliás, a riqueza da UE expressa no PIB (produto interno bruto), é superior à da China e, se juntarmos o Reino Unido, num quadro de Europa alargada essa diferença ainda é mais expressiva.
Vejamos as principais conclusões desta conferência do ECFR: (i) O choque Trumpiano e a Segurança Europeia, representa uma rutura nas relações transatlânticas, especialmente no que diz respeito à cooperação em defesa e segurança. A futura viabilidade da NATO foi questionada, com ênfase na necessidade de a Europa desenvolver autonomia estratégica, o que passa por reforçar capacidades militares europeias e reduzir a dependência dos EUA: (ii) Fragmentação Interna da UE, em que foi salientada a vulnerabilidade da Europa à desunião interna, especialmente diante de pressões externas vindas dos EUA, Rússia e China. A diversidade de interesses nacionais dentro da UE pode dificultar uma resposta coordenada a crises globais; (iii) Liberdade de Expressão vs. Interferência Digital, sendo enfatizado o papel de figuras como Elon Musk e o vice-presidente J.D. Vance na promoção de uma visão “sem limites” da liberdade de expressão, que pode desestabilizar o espaço digital europeu. A UE foi incentivada a reforçar sua soberania digital e proteger seus valores democráticos; (iv) Oportunidade para a Europa se reinventar no meio da crise, como potência geopolítica, reforçando alianças com outras regiões, como América Latina e África, para compensar a perda de apoio dos EUA, e sobretudo para não ficar isolada, numa nova ordem internacional emergente, mais multipolar, mas menos multilateral, e porventura mais hostil.