No passado sábado, 31 de maio, foi inaugurada em Loulé uma estrutura pioneira que promete transformar o panorama dos cuidados de saúde primários no Algarve — o primeiro Centro de Saúde Universitário do país.

Este novo espaço não só vai servir a população com serviços de excelência, como será um polo de ensino, investigação e inovação.

A funcionar num edifício moderno, o centro reúne várias valências: a Unidade de Saúde Familiar Lauroé, a Unidade de Cuidados na Comunidade Gentes de Loulé e a Unidade de Apoio à Gestão do ACES e Direção dos Cuidados de Saúde Primários da ULS Algarve. Mas o que o torna verdadeiramente especial é a Unidade Académica de Formação e Investigação em Cuidados de Saúde Primários, um espaço pensado para formar e inspirar os profissionais do presente e do futuro.

“Este será um centro onde a prática inspira a ciência — e onde a ciência transforma a prática”, afirmou Rubina Correia, diretora clínica dos cuidados de saúde primários do Algarve, durante a apresentação.

Com salas de formação, reuniões, videoconferência e gabinetes para prática clínica em contexto formativo, o centro foi desenhado para acolher formações presenciais e à distância, e está ligado à Faculdade de Medicina da Universidade do Algarve e a outras instituições de renome nacional e internacional.

A gestão da unidade será assegurada pelo ABC – Algarve Biomedical Center, fruto de uma colaboração entre a Autarquia, a Universidade do Algarve e a ULS Algarve.

Investigação com impacto direto na comunidade

Durante a cerimónia, o presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, anunciou a criação de uma Bolsa de Investigação Clínica Aplicada, com uma verba anual de 200 mil euros, destinada aos médicos de medicina geral e familiar do SNS do concelho. O objetivo? Fomentar a investigação diretamente ligada ao trabalho diário destes profissionais.

“Os médicos que queiram associar a prática clínica à investigação poderão contar com este apoio”, destacou Vítor Aleixo.

Já o reitor da Universidade do Algarve, Paulo Águas, reforçou a importância da ligação entre saúde e ensino superior, sublinhando que a universidade já conta com 1800 estudantes na área da saúde e ambiciona chegar aos 3000 nos próximos anos.

Em representação da Faculdade de Medicina e do ABC, Paulo Castelo Branco apontou duas prioridades para o centro: a formação contínua de médicos, enfermeiros e auxiliares, e a investigação científica de excelência, com impacto direto na qualidade dos cuidados prestados.

“A investigação em saúde salva vidas”, realçou, afirmando o objetivo de tornar esta unidade “uma referência nacional e internacional”.

O responsável da ULS Algarve, Tiago Botelho, destacou que este projeto representa “um novo conceito de proximidade entre ensino, investigação e prestação de cuidados” e revelou que, já em 2025, será possível atribuir médico de família a mais 10 mil cidadãos atualmente sem acompanhamento.

Cuidados de saúde mais próximos e humanos

A USF Lauroé, considerada “uma unidade de excelência”, serve atualmente 13.448 utentes, número que irá aumentar para 15.250 com a entrada de novos profissionais. Já a UCC Gentes de Loulé cobre as nove freguesias do concelho, acompanhando mais de 71 mil utentes e desenvolvendo projetos comunitários como preparação para o parto, saúde escolar, intervenção precoce e apoio à amamentação.

Este edifício inovador também acolhe os serviços administrativos e logísticos do ACES, integrando-se num ecossistema de saúde em expansão.

Vítor Aleixo fez questão de recordar o longo percurso até este momento: “Foi uma história com avanços e recuos, que começou em 2010, mas que só em 2020 ganhou a dimensão de centro universitário”. O projeto nasceu de um concurso de ideias e representa agora um salto em frente na inovação e ambição do concelho.

Um ecossistema de saúde em crescimento

Loulé não se fica por aqui. Já estão em funcionamento um Centro de Simulação Cirúrgica e o primeiro Laboratório de Genética Médica da região, e em breve será instalado um equipamento de Ressonância Magnética e um serviço de Procriação Medicamente Assistida, o segundo do SNS a nível nacional.

Está também previsto um investimento de cerca de 30 milhões de euros no futuro Edifício Mariano Gago, vocacionado para a investigação biomédica.

“Queremos atrair jovens investigadores e profissionais de saúde. O Algarve não pode depender apenas do turismo e do imobiliário”, sublinhou Vítor Aleixo, defendendo a diversificação da base económica da região.

Por fim, foi ainda anunciada a requalificação do antigo Centro de Saúde de Loulé, onde funciona a USF Serra Mar, numa proxima reunião camarária.

O Centro de Saúde Universitário de Loulé representou um investimento de 7,3 milhões de euros, com 65% suportados pela Câmara Municipal e 35% pelo Ministério da Saúde — um verdadeiro exemplo de como o investimento público pode transformar vidas.