O encontro deste ano das Cáritas Paroquiais do Algarve realçou que «a Cáritas é a animadora e coordenadora da caridade na comunidade paroquial».
A ideia foi deixada pelo presidente da Cáritas Diocesana que se fundamentou no Motu Próprio ‘Intima Ecclesiae natura’, do Papa Bento XVI, sobre o serviço da caridade, no VI Encontro Diocesano das Cáritas Paroquiais, realizado no último sábado em Faro, no largo da Sé, nas instalações da Cáritas Diocesana do Algarve.
Carlos de Oliveira destacou que o documento “insta o bispo à criação de um serviço de Cáritas Paroquial” e defendeu que este deverá trabalhar em rede quer com a Cáritas Diocesana, quer com as Cáritas das outras paróquias, “quer com outras realidades eclesiais para se conseguir uma maior coordenação criativa”.
“Se não for possível estabelecer esse grupo de Cáritas, que tenha um análogo”, ressalvou Carlos de Oliveira, citando novamente o documento pontifício e realçando que a caridade e “a sua ação deve ser cuidada, organizada e estruturada tal como o serviço da palavra e da liturgia”.
O presidente da Cáritas Diocesana apelou a que os grupos das Cáritas Paroquiais sejam “abertos a outras realidades que possam existir na própria comunidade paroquial” e que procurem “estabelecer ligação com outras estruturas, sejam elas quais forem, desde que tal ligação venha a facilitar o trabalho” a realizar.
Carlos de Oliveira realçou a importância da “proximidade” porque ajuda a ser “conhecedores das realidades e fragilidades dos outros”. “Essas realidades e fragilidades encontramos onde estamos, no nosso local de trabalho, nos nossos vizinhos, nos nossos amigos”, constatou, apelando à denúncia dessas situações através dos serviços que na comunidade paroquial existem para tal fim.
Carlos de Oliveira exortou assim à “corresponsabilização”, considerando que a “corresponsabilidade é forma de viver o Ano Jubilar” e diz respeito ao caminho sinodal que a Igreja tem vindo a percorrer. Aquele responsável disse ser necessário informar a comunidade paroquial do trabalho que se faz, “dando a conhecer a toda a paróquia as necessidades dos mais desfavorecidos, fazendo-a corresponsável na busca de soluções para os problemas”. “Temos que comunicar para que a comunidade paroquial, que nos manda para este serviço, seja corresponsável”, sustentou.
Carlos de Oliveira deixou claro que as representações paroquiais daquela organização têm de ter princípios orientadores para a sua gestão e órgãos sociais. “É por isso que as Cáritas Paroquiais devem ter estatutos próprios que são homologados pelo bispo da diocese”, completou, acrescentando que esses estatutos podem ter ou não “cariz de IPSS”, sendo que a primeira possibilidade implica obrigações fiscais como ter contabilidade organizada.
O presidente da Cáritas algarvia apelou ainda à “reflexão na procura de novos caminhos que reforcem a identidade e motivação cristã” dos serviços prestados, advertindo que aquela organização católica não é uma “instituição de filantropia”. “Filantropia fazem outras instituições. Nós temos outra missão que é ajudar com amor”, distinguiu, garantindo que a caridade que a Cáritas pratica “é uma forma de amar o outro incondicionalmente”. “Não é só dar. Temos de fazer com que as pessoas possam dar o salto e dar o salto é ir caminhando com elas, por forma a que deixem de estar na situação em que estão. É necessário a nossa ajuda não ser reduzida a uma mera assistência social”, completou.
Aquele dirigente defendeu que a reflexão deve ser feita através da oração. “Se não rezarmos perante as dificuldades que vamos tendo, não encontramos solução, não encontramos caminho”, alertou.
Carlos de Oliveira recordou que os atendimentos devem ser sigilosos. “É na forma como acolhemos e atendemos ou damos atenção à pessoa que está a nossa marca”, alertou, exortando à criação de “uma nova fantasia da caridade”, ou seja, “uma caridade mais criativa face às novas interpelações”, capaz de “criar novas formas de atender”, sendo os seus agentes “mais perspicazes, mais atentos, mais dedicados”.
Neste sentido, alertou que “não basta ser voluntário”. “É necessário formação específica que tem em conta o perfil caritativo da Igreja. É necessária a formação de coração”, acrescentou, sublinhando a importância da “competência profissional” porque os agentes da pastoral social são “profissionais do amor” e de a sua ação se “apoiar mais na Doutrina Social da Igreja”.
O encontro, participado pelas Cáritas paroquiais de São Luís de Faro, da Sé de Faro, de Loulé, de São Brás de Alportel e da Matriz de Portimão, teve início com o acolhimento e oração inicial e continuou com a reflexão do padre António Moitinho sobre o tema “A Caridade em tempo jubilar”. Seguiu-se uma visita às instalações da Cáritas Diocesana do Algarve e a intervenção do seu presidente.
Para além das que estiveram presentes naquele encontro, existem ainda Cáritas nas paróquias de Boliqueime, Lagoa, São Bartolomeu de Messines e Nossa Senhora do Amparo de Portimão.
Folha do Domingo