Tarifas generalizadas são um exercício de soma negativa

11:00 - 24/04/2025 OPINIÃO
André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
Donald Trump justificou as tarifas recíprocas como uma medida para corrigir uma "injustiça" nas barreiras tarifárias impostas por outros países aos produtos americanos. Argumentou que muitos países aplicam tarifas elevadas aos produtos dos EUA, enquanto estes aplicam tarifas mais baixas aos produtos desses países. Assim sendo, as tarifas recíprocas visariam reduzir o défice comercial dos EUA, que ocorre quando o país importa mais do que exporta. Refira-se que o défice comercial dos EUA em 2024 foi aproximadamente 3,5% do PIB, e que, se atentarmos apenas na balança de mercadorias, terá sido de cerca 5,8% do PIB. 
 
Para Trump, a ideia é que, ao aumentar as tarifas sobre produtos importados, os EUA incentivam a produção doméstica, equilibram a balança comercial, geram crescimento, a par da criação de emprego, redução dos custos de mercado, revitalização da indústria e reforço da segurança económica, especialmente em setores estratégicos como aço e alumínio. No plano financeiro, Trump espera, com as tarifas, ganhar milhares de milhões de dólares, numa década, para o tesouro americano, permitindo baixar a enorme dívida pública norte-americana e os impostos. E, consequentemente, no plano externo, impor o poder americano no comércio internacional, na lógica do “Make America Rich Again”
 
Sucede que a evidência histórica de uma escalada de tarifas é profundamente corrosiva para as pretensões de Trump, saldando-se num exercício de soma negativa para as partes. Tarifas elevadas tendem a provocar retaliações de outros países, como aliás está a acontecer, levando a guerras comerciais que prejudicam o comércio global e a economia dos países envolvidos. Historicamente, o exemplo mais taxativo é a tarifa Smoot-Hawley de 1930, que exacerbou a Grande Depressão e antecedeu a 2ª guerra mundial. E, note-se que a panóplia de tarifas sinalizadas por Trump são as mais elevadas desde 1909. Acresce que vivemos num mundo de vasos comunicantes, em que prevalecem cadeias de valor globais, onde a produção é fragmentada à escala global, gerando uma forte interdependência das economias e das respetivas cadeias de abastecimento. Por isso, contrariamente às pretensões de Trump, o mais provável é que, desde as matérias-primas, aos componentes, até ao produto final, os preços de mercado subam significativamente e gerem inflação., prejudicando consumidores e empresas. E, mesmo a criação de emprego e a revitalização da indústria não passarão de uma miragem. 
 
Em conclusão, tarifas elevadas não só criam incerteza e imprevisibilidade acrescidas, como podem ter efeitos adversos significativos, incluindo retaliações internacionais, aumento dos custos de produção, quebra no consumo, e desaceleração do crescimento económico. Por isso, as tarifas são uma ferramenta controversa que pode gerar mais problemas do que soluções, desde logo para quem as aplica, os Estados Unidos da América.