Dom Finório

10:12 - 22/01/2022 OPINIÃO
Por F. Inês

Recentemente divulgou a imprensa que a Dieta Mediterrânica (adiante designada por DM) é a melhor do mundo, o que acontece pelo quinto ano consecutivo, face a uma avaliação feita por um painel internacional de 40 especialistas em saúde e alimentação.

Por outro lado, vale a pena recordar que a DM fora já consagrada Património Imaterial da Humanidade, na sequência da candidatura apresentada por 7 países europeus, entre os quais Portugal, em dezembro de 2013.

Porque a alimentação é uma componente fundamental na promoção da saúde e na prevenção da doença, vale a pena referir que em Outubro de 2021 os dados revelados pela Balança Alimentar Portuguesa mostraram que os portugueses, com um aporte calórico médio de 4 075 calorias diárias por habitante, andam a comer o dobro do recomendado … cerca de 2 000 calorias para um adulto de peso médio …

para alem de ingerirem 4 vezes mais carne do que deviam e ultimamente terem aumentado consideravelmente o consumo de ovos e chocolate. Porque todos nós, portugueses, temos a sorte … e neste caso o privilégio … de viver na Zona Mediterrânica … vale a pena reflectir nesta enorme contradição … um país mediterrânico que despreza a DM …

Voltando um ”bocadinho atrás” … muito longe já vão os tempos em que o homem tinha que procurar na Natureza a sua alimentação no dia-a-dia, recolhendo plantas silvestres e caçando animais… eram os caçadores-recolectores … até que um período glaciar que durou cerca de 100 mil anos levou o homem a refugiar-se nas cavernas, a vestir-se com peles de animais e a adoptar uma alimentação quase exclusivamente carnívora por se ter quase extinguido a vegetação…

mais tarde, quando as condições climáticas melhoraram, o Homo Sapiens… há cerca de 10-12 mil anos… até aí nómada, tornou-se sedentário, começando então a surgir as primeiras aldeias no chamado Crescente Fértil … nos vales dos rios Jordão e Eufrates … hoje Síria, Iraque, Israel e regiões circundantes… e começou a desenvolver a agricultura e a criação de animais domésticos … o cão, o carneiro, o cavalo e o boi … e a cozinhar os alimentos pelo fogo  … 

Um pouco mais tarde, na época das Cruzadas e dos Descobrimentos … no período que decorreu entre os séc. XI e XVI … surgiu a importação de novos alimentos … especiarias, milho, arroz, batata, tomate, açúcar, chá e chocolate.

Mas foi a Revolução Industrial, nos séc. XVIII e XIX que originou a chamada Revolução Industrial Alimentar, para fazer face à alimentação das grandes massas humanas que a indústria, o comércio e os serviços fizeram deslocar para as cidades … e que introduziu e fez desenvolver a indústria intensiva de massas, arroz, açúcar, conservas, pão e bebidas alcoólicas… que tem vindo a evoluir até aos nossos dias com uma alimentação cada vez mais desequilibrada e prejudicial à saúde … e que hoje, com a vida moderna, sem tempo para actividades domésticas, se agrava dramaticamente com o “pronto a comer”  … a célebre “fast food” … gasta-se pouco e come-se depressa …  mas demasiado rica em sal, açúcar e gorduras “trans” … as mais baratas e as mais prejudiciais à saúde…  

Mas… afinal o que é a DM? Para além de um padrão alimentar, é também um estilo de vida e um património cultural milenar, que combina hábitos alimentares saudáveis através de nutrientes que ajudam o organismo nas suas funções vitais, com a partilha de refeições … momento de convívio da família, ou do grupo… comer em conjunto é uma das bases da identidade cultural da comunidade mediterrânica.

Foi Ancel Keys, professor de Saúde da Universidade de Harvard, surpreendido com os baixos valores de colesterol e de incidência de doenças coronárias e enfartes do miocárdio na população mediterrânica, quem introduziu o conceito de DM. Dada a importância deste assunto e a impossibilidade de minimamente o explicitar nesta crónica, a sua composição alimentar bem como a sua repercussão na saúde humana serão tratadas na próxima crónica.