O auditório dos Paços do Concelho Séc. XXI recebeu, recentemente, uma sessão pública da estratégia de internacionalização do Projeto Molião.
Na ocasião foram recordados os trabalhos de escavação do sítio e o conhecimento científico produzido, que conduziu à integração do Projeto num projeto I+D+i (Investigação, Desenvolvimento e inovação).
Recorde-se que o sítio arqueológico do Monte Molião corresponde à antiga Lacobriga sendo, por essa razão, considerado um verdadeiro ex-libris da cidade de Lagos que ali tem a sua origem histórica e toponímica. Desde 2006 que o Município de Lagos estabeleceu uma parceria de cooperação científica com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e com o seu centro de investigação, a UNIARQ, para desenvolver um programa de investigações arqueológicas no Monte Molião, promovendo o conhecimento do sítio e tendo em vista o ulterior desenvolvimento de um programa municipal para a sua salvaguarda, valorização e divulgação. Os trabalhos de investigação desenvolvidos pela Profª Ana Margarida Arruda (UNIARQ) e a equipa que dirige permitem compreender a orgânica e a transformação ao longo de vários séculos daquilo que foi o primeiro núcleo urbano de Lagos.
O Projeto Molião implica a progressiva escavação do sítio e o estudo das estruturas domésticas e industriais preservadas e dos espólios associados, tendo já permitido definir a sequência de ocupação do sítio entre o século IV a.C. e o século II d.C., esclarecer as relações comerciais com outros lugares do mundo púnico e romano, vislumbrar o modo de vida dos seus habitantes e pôs a descoberto arruamentos, casas e áreas de produção, cujo grau de preservação permitiu preparar o sítio para visita.
Sublinhe-se que o conhecimento produzido tem vindo, desde o início, a ser partilhado com a comunidade lacobrigense, através de jornadas de portas abertas e palestras. Paralelamente deu origem, na comunidade científica, a teses académicas e dezenas de artigos científicos, o que facilitou o reconhecimento deste sítio no mundo e contribuiu para a divulgação internacional do Município de Lagos. Assim, e para além desta socialização do conhecimento produzido ter permitido dar a conhecer além-fronteiras esta importante estação arqueológica, ainda suscitou o interesse de outros Centros de Investigação Superior, como o da Universidade Autónoma de Madrid (UAM), uma das mais prestigiadas universidades espanholas.
Foi, aliás, neste âmbito que o Projeto Molião foi recentemente convidado para integrar um projeto I+D+i (Investigação, Desenvolvimento e inovação) que visa a investigação das técnicas construtivas, no intuito de definir quais as que se mantém ao longo da ocupação de Monte Molião e quais as que marcam os momentos de transição (pré-romano, república, império e baixo império). Pretende-se caraterizar a cultura arquitetónica como base para o conhecimento dos sítios arqueológicos a valorizar, afinando procedimentos na área da conservação e restauro que respeitem e afirmem essas diferenças cronológicas e justifiquem soluções a adotar de modo geral em outras estações arqueológicas destas cronologias.
Refira-se que o projeto I+D+i agrega outras estações arqueológicas cronologicamente semelhantes e é liderado pelo Prof. Doutor Juan Blánquez Pérez*, Catedrático de Arqueologia da UAM e subdiretor do Projeto Carteia (São Roque, Cádiz) que dirige a Prof. Doutora Lourdes Roldán* (UAM).
Na sessão, todos os intervenientes (Presidente da Câmara Municipal de Lagos, Maria Joaquina Matos, Profª Ana Arruda e Profs. Juan Blánquez Pérez e Lourdes Roldán”) se mostraram entusiasmados com esta perspetiva de internacionalização do Projeto Molião, sendo que Ana Arruda afirmou que “ainda há toda uma «cidade» por descobrir”, aproveitando para deixar a sugestão ao Município respeitante à Musealização das Ruínas e criação de um Centro Interpretativo. Trabalho este que será coordenado pela arqueóloga municipal, Elena Móran, que tem sido desde o início, na autarquia, a responsável direta por tudo o que diz respeito ao Monte Molião.
Para a Presidente da autarquia, “a participação do Projeto Molião no projeto I+D+i contribuirá, de forma decisiva, para a definição das opções museográficas a considerar no projeto de valorização do sítio arqueológico”. De referir que, para já, está a ser considerado, no projeto que está em curso a propósito da Requalificação do Museu Municipal, um local para acolher uma exposição permanente que divulgue as peças recolhidas no Monte Molião e que conte, ao mundo, a história de Lagos.
Por CM Lagos