A revista “Visão”, insuspeita de simpatia governamental, publicou há dias um artigo intitulado “O País prometido”, da autoria da jornalista Sónia Sapage, no qual revisitou o programa eleitoral do PSD de 2011, e outros panfletos de campanha, seleccionando as medidas “mais emblemáticas ou polémicas escrutinadas nas urnas”, para fazer um balanço a três quartos do mandato em curso.
O exercício vale o que vale, na subjectividade da escolha dos sectores e das medidas em apreço, para fazer uma avaliação de desempenho do actual Governo da coligação, mesmo que apenas à luz das promessas eleitorais do PSD, o mesmo será dizer, do Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho.
Não deixa, por isso, de ser interessante constatar que, com um ano ainda pela frente, a taxa de cumprimento das “promessas eleitorais” já vai nos 63%, mesmo tendo consciência da diferente densidade de cada uma delas.
Por este andar, tudo indica que esse grau de cumprimento possa vir a atingir no final do mandato um valor superior a 80% o que, tendo em consideração as condicionantes inesperadamente acrescidas da estrutura e da conjuntura política, económica e financeira encontradas à data de Junho de 2011 é, naturalmente, um balanço extremamente positivo.
Se houve alguém que chegou ao poder, sem prometer facilidades, foi Pedro Passos Coelho. Recomenda-se a leitura do seu discurso de tomada de posse.
Se alguma vez existiu um Governo que actuou sem olhar para o calendário eleitoral, ou sem se deixar perturbar pela espuma mediática e pelo ruído da rua, é o décimo nono da lista. Pode ter “lixado” os partidos que o suportam em dois actos eleitorais consecutivos, mas soube colocar os superiores interesses colectivos acima dos interesses imediatos e partidários.
Um voto não vale uma medida eleitoralista que agrave a situação do País, e esta é uma virtude rara na classe política, que merece ser valorizada.
Se juntarmos ao cumprimento dos compromissos, do Estado e do Partido, os resultados já iniludíveis de uma estratégia que apostou na credibilização externa de Portugal, ao muito que se fez para a reforma do Estado e das atitudes (dos indivíduos, das empresas, da administração pública e das instituições), por acréscimo aos panfletos, ou ao memorando de entendimento, não faltarão argumentos quando chegar o julgamento supremo dos eleitores.
É que esta avaliação contrasta com o festival de promessas fáceis, vazias e demagógicas que emanam do balcão imediatamente à nossa esquerda. Durante estes três anos, o Partido Socialista não soube constituir-se numa oposição responsável. O seu contributo para solucionar o problema gigantesco que ele próprio criou aos portugueses, foi nulo. Zero! E agora, à vista de todos, desperdiça a cada dia que passa a oportunidade de ser uma alternativa credível. Um caso perdido de cegueira pelo poder, a qualquer preço, custe o que custar. Um caso de estudo, à escala mundial.

Por MENDES BOTA
Deputado, Presidente da Comissão Parlamentar para a Ética, a Cidadania e a Comunicação