Bruno Saruga, de carnívoro a crudívoro em três anos

09:38 - 03/06/2015 FARO
Aos 30 anos, Bruno Saruga trabalhava na área do turismo e era um homem como tantos outros, que não dispensava um petisco com os amigos, o cigarro depois do café, ou uma cerveja num dia de festa.

 

Hoje, com 33 anos, Bruno é um novo homem. Tudo mudou no dia em que um documentário o levou a tomar a decisão: deixar de comer carne.

O caminho foi gradual, e de ovolactovegetariano, o primeiro passo de Bruno, a sua dieta foi-se alterando até deixar de comer alimentos cozinhados. Hoje, essa alteração não existe apenas na sua alimentação, mas também no seu estilo de vida. Para ir de encontro aos seus princípios, deixou o trabalho seguro que tinha, para abrir a sua mercearia vegan, em Faro, onde nenhum produto de origem animal tem lugar.

 

A Voz do Algarve – Há quanto tempo se tornou crudívoro vegan? O que o levou a tomar essa           decisão?

Bruno Saruga – Antes de mais é importante explicar que eu não me tornei logo crudívoro vegan. Inicialmente tornei-me ovolactovegetariano, mais tarde vegetariano e só depois crudívoro. Foi um processo gradual. Mas tudo começou há cerca de três anos, depois de ver um documentário bastante chocante chamado «Terráqueos». Aliás, eu não consegui ver mais de dez minutos, porque aquilo é mesmo muito cruel… mas sugiro que as pessoas que defendem que o ser humano é carnívoro o vejam… talvez os faça pensar, ou talvez … No fundo, aquilo que defendemos tem a ver com os nossos hábitos, a forma como fomos criados e aceitamos as coisas como elas sempre foram. Mas se pensarmos bem, as pessoas que viveram na altura da Inquisição também a achavam normal. Mas o ser humano evolui. Eu gostava muito de comer o peixe fresco da praça de Olhão. E o peixe mais fresquinho é aquele que ainda está vivo, mas de vez em quando eu olhava para o peixe, abstraia-me do mundo, e sentia que estava a sofrer. Foram pequenas coisas que me foram dizendo algo. Até que tomei a decisão e falei com a minha esposa, que me apoiou e se juntou a mim. Ela tornou-se logo vegetariana, e eu ovolactovegetariano.

 

V.A. – Como foi o processo desde a sua decisão de ser ovolactovegetariano, até se tornar crudívoro vegan, foi complicado?

B.S. – Acabei por abdicar rapidamente dos ovos, depois do leite…… e quando tomamos uma decisão diferente as pessoas têm a tendência de nos apontar o dedo. Eu era fumador, bebia álcool, e esses hábitos em nada me afastavam do ser vegetariano, mas os meus amigos chamavam à atenção, talvez tentando que eu desistisse da minha decisão, mas o efeito foi o contrário. Quanto mais eles me diziam, mais eu refletia sobre o que estava a fazer, e comecei a largar esses hábitos. Primeiro o tabaco. Continuei com o álcool, mas este puxava pela vontade de fumar, então eliminei também o álcool. E foi assim, pouco a pouco. Eu acho que estamos cá para nos aperfeiçoarmos, para nos purificarmos, para evoluirmos. Penso que a própria natureza funciona dessa forma. Tudo é uma questão de hábito, hoje, se voltasse a experimentar o que comia antes, provavelmente o meu paladar iria estranhar.

 

 

V.A. – Quais as diferenças entre ovolactovegetariano, vegetariano, crudívoro, vegan…?

B.S. – Os vegetarianos não comem nada de origem animal, nem mesmo o leite ou os ovos. Quando se consomem esses produtos dá-se outro nome. Quando se consome ovos é-se ovovegetariano, se se consumir leite, é-se lactovegetariano, e se comermos ovos e leite é-se ovolactovegetariano. Vegetariano mesmo, é aquele que só come produtos que não têm qualquer origem animal. Por sua vez, crudívoro é aquele que só come alimentos crús, que não passam por nenhuma transformação. Já o vegan é aquele que para além da alimentação pensa em tudo o resto. Ele não compra roupa que seja de origem animal, ele não vai a zoológicos, não vai a circos, é uma filosofia além da alimentação.

 

V.A. – Como são as suas refeições?

B.S. – Eu como bastante fruta de manhã. Nem sempre fruta da época, o que seria o mais correto. O ideal seria comer apenas o que a natureza nos dá na época em que estamos e no ambiente em que estamos. Por exemplo, se não é a época do melão, não devo comer melão, se onde estou não há bananas, não devo comer bananas… isso seria o ideal, porque muitos dos produtos que não são de época, já perderam grande parte das suas propriedades. E eu estou a dizer isto, mas é exatamente aí que está o meu erro. Eu ainda não como apenas esses produtos de época e do local onde estou… Mas voltando ao pequeno-almoço. De manhã como uma enorme salada de frutas com metade de um melão, laranjas, morangos, maçãs, peras, abacaxi, etc, tento sempre incluir fruta da época. Depois tempero com leite de sementes que fazemos em casa, triturando as sementes e adicionando água. Depois, para o almoço, hoje tenho, por exemplo, favas cruas, tomate, alface, tomate cherry e ervilhas. Ao lanche costumo comer o que sobra do pequeno-almoço e o jantar não varia muito, mas pode incluir cenouras, beringelas, curgetes, pimentos…etc. sempre tudo cru, claro.

 

V.A. – Nestes três anos que diferenças notou na sua saúde?

B.S. – O facto de nunca mais me constipar, por exemplo. A minha mulher que tinha períodos de baixas que chegavam a semanas, devido a constipações e gripes complicadas, não tem nenhum tipo de doenças não se constipa desde 2012. Eu também sempre tive diversos problemas de saúde, desde então não tenho nada. E quanto a isto, não quero atacar a classe médica, porque é muito importante, mas também tenho plena consciência que  a medicina hoje em dia é um lobby com muito jogo de interesses económicos por trás. E controlam tudo. No caso do cancro, por exemplo, que as pessoas acham que é normal. O cancro não é normal. São raras as pessoas que não conhecem alguém que tenha sido vítima de cancro. O cancro mata 17 milhões de pessoas por ano, mas ninguém fala destes números assustadores... Porquê? Há um médico italiano, o Dr. Túlio, que fez um estudo e ele encontrou a solução para o cancro no bicarbonato de sódio, que existe desde sempre, e é uma solução muito barata. Claro que não é tomar bicarbonato e pronto, e é aí que está a grande importância da medicina, precisamos de profissionais que saibam como fazer o tratamento. Só que esse médico foi afastado da classe médica, teve de fugir… E porquê? Outro grande lobby que existe é o do leite. Toda agente acha que o leite combate a osteoporose. Pois eu digo, eu acho que o leite é um dos principais causadores de osteoporose. Mas ninguém diz isso às pessoas. Temos de perceber a química do nosso organismo…o cancro só se desenvolve em meios ácidos. E o PH do nosso sangue deve estar neutro. Tudo o que consumimos altera esse PH, seja aumentando a sua acidez ou alcalizando. A alimentação de hoje em dia contribui para acidificar o organismo. Eu, além de só comer alimentos crus, não como sal nem açúcar, porque são muito acidificantes… todos os alimentos de origem animal o são, ao contrário da maioria dos alimentos de origem vegetal, que são mais alcalinos. Toda esta informação devia ser dada a conhecer. Na minha opinião, se as pessoas estivessem informadas, poder-se-ia prevenir do cancro e salvar mais de metade da população que morre vítima dessa doença…  Tudo isto que eu digo, é um pouquinho do que sei e que me faz sentido, mas eu não quero que as pessoas acreditem ou sigam o que eu digo, quero que oiçam o que eu digo, reflitam sobre isso e informem-se.

 

V.A. – Abriu entretanto um estabelecimento também ele seguidor da filosofia vegan. Sente que há muita procura?

B.S. – Eu estou um pouco limitado por a loja ser vegan. Eu tenho a certeza que se abrisse uma loja com produtos biológicos, carnes, ovos leite, etc, tendo em conta todos os problemas de saúde que estão a afetar a população e a procura que esses produtos têm atualmente, teria mais sucesso, mas no meu caso escolhi respeitar os meus princípios. Mas tenho produtos para toda a gente, tenho pão, legumes, fruta… ainda não tenho tudo totalmente biológico, porque também tenho de me adaptar um pouco às condições das pessoas, que nem sempre podem investir na alimentação. Mas a longo prazo, pretendo plantar os produtos para poder vender produtos biológicos. Serão produtos biológicos não certificados, porque certificá-los iria encarece-los, mas se as pessoas confiarem na minha palavra, saberão que são de melhor qualidade.

 

V.A. – É um negócio sustentável?

B.S. –  Não, ainda não.  Abri há cerca de um ano e neste momento ainda nem dá para cobrir as despesas. Mas hoje em dia para se ter um negócio, não precisamos apenas do valor para investir, mas também para sobreviver no primeiro ano. Consegui poupar um pouco no inicio, porque a mão-de-obra foi toda minha, mas ainda assim há sempre muitas regras, licenças e burocracias para cumprir. E depois é preciso um tempo, um prazo para as coisas funcionarem. Eu estou convencido que com o verão as coisas vão inverter. Tenho feito bastante por isso, para chegar às pessoas, o que nem sempre é fácil para as pequenas empresas. Mas vou fazendo o possível e acredito que a minha forma de atender as pessoas, de um modo mais humano contribua para as cativar. As pessoas sabem que aqui há sempre alguém que está disposto a ajudar, a dar uma opinião ou ajuda honesta. E penso que é por aí.

 

 

Por VC