A criação de uma base de dados que reunisse textos e sons do género poético do romanceiro português, surgido na idade média e com uma grande tradição oral, é o objetivo do projeto Romanceiro.pt, hoje apresentado no Algarve.
Pere Ferré foi o coordenador deste trabalho e explicou à Agência Lusa que a recolha elementos para a base de dados foi feita em duas vertentes, a primeira delas baseada em “procurar através de revistas, jornais e livros, desde 1828, data em que aparece o primeiro romance publicado por Almeida Garret, até aos nossos dias, na altura 1980”, este tipo de textos.
Esta recolha permitiu a criação de um local onde estes textos ficassem “guardados, classificados e sistematizados” e, em paralelo, o investigador começou também “a fazer trabalho de campo, de uma forma sistemática, procurando cobrir o território nacional, com as equipas de alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, da Universidade Nova de Lisboa e agora da Universidade do Algarve”.
O trabalho de campo colocou os investigadores “à procura desse género na tradição oral moderna do dia de hoje” e aí foi constituído “outro arquivo, um arquivo sonoro, com as vozes, as canções e as palavras das pessoas”, sobretudo do campo, que são “aquelas que mantiveram viva a tradição oral, muitas vezes com os ritmos dessas canções a marcarem o ritmo do trabalho”.
“O que agora se faz é a fusão destes dois arquivos, cerca de 10.100 textos que estavam no primeiro, versões em papel, que fui extraindo de livros, revistas e jornais, mais as cerca de 3.500 versões que eu entretanto fui recolhendo desde 1980” em som, explicou Pere Ferré, referindo-se ao projeto Romanceiro.pt.
Este acervo, sublinhou, corresponde a “umas 660 horas de gravação”, das quais “os textos foram transcritos, classificados e agora estão incorporados nesta base de dados”.
“Com este arquivo o que se consegue fazer é ter numa base de dados não só os elementos que descreviam o texto, mas também o próprio texto e versões desse texto”, acrescentou, exemplificando com a ideia de que agora estão disponíveis em “imagem e mp3”.
Pere Ferré anunciou ainda que o arquivo criado com o projeto Romanceiro.pt já está para ser replicado por uma universidade espanhola, sediada em Madrid, que se interessou pelo projeto, uma vez que esta tradição poética do romance “é comum a todas as línguas ibéricas, como o português, o espanhol ou o catalão”.
“É um arquivo que ficará aberto em rede e disponível para todos” e “facilitará a consulta” por parte de todos os interessados, graças às “ferramentas tecnológicas que tornam isso possível e que eram inimagináveis em 1980”, quando iniciou o projeto, disse ainda o coordenador.
A mesma fonte fez questão de agradecer à Fundação Calouste Gulbenkian pelo financiamento do projeto e a Miriam Tavares e Sandra Boto, as investigadoras do Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, sem cuja contribuição “não tinha sido possível fazer esse trabalho”.
O projeto foi ontem apresentado em Querença, aldeia do concelho de Loulé, numa cerimónia que contou com a presença do ministro da Cultura, João Soares.
Por: Lusa