Rita Cruz
Entrevista | Rita Cruz traz ao Cineteatro Louletano a peça «Mãe com Açúcar»

14:54 - 20/01/2016 ATUALIDADE
Com o desejo de prestar uma homenagem aos avós e àquilo que eles representam,Rita Cruz criou o espetáculo «Mãe com Açúcar», que tem em cena uma avó que conta estórias da sua relação com os netos e que retrata o papel desta figura em todas as famílias. Com a interpretação de Tânia Alves, este espetáculo é uma coprodução do Teatro do Eléctrico, cujo diretor é Ricardo Neves-Neves (natural de Quarteira) e o Cineteatro Louletano.

É o primeiro projeto que Rita Cruz traz a Loulé, mas promete não ser o último.

 

A Voz do Algarve –  Como surgiu a ideia de dar vida a esta “Mãe com Açúcar”?

Rita Cruz –  A ideia surgiu-me há cerca de quatro anos, quando comecei a pensar na melhor forma de fazer uma homenagem ao papel dos avós nas nossas vidas. Tenho um enorme respeito pelos mais velhos e achei que a melhor forma de demonstrar isso era fazendo aquilo que faço melhor: teatro. A base do meu trabalho foi a observação, numa primeira fase apenas da minha mãe enquanto avó dos meus sobrinhos e da mãe e avó da atriz que interpreta a única personagem em palco. Entretanto, comecei a procurar mais informação, para que a minha abordagem fosse mais abrangente, e fui fazer essa recolha num centro de dia, onde contactei com pessoas muito diferentes, e esta peça é o resultado de tudo isso. É constituída por uma série de estórias que fui recolhendo, algumas que fui ficcionando a partir daquilo que me contavam e outras que são apresentadas exatamente como aconteceram.

V.A. – Por que motivo optou por ter apenas uma atriz em palco?

R.C. – Durante algum tempo, fiquei fixada neste tema e na forma de torná-lo num espetáculo. E a verdade é que só o conseguia imaginar com apenas uma atriz em cena. Cheguei a tentar colocar vários elementos à volta, mas rapidamente compreendi que não resultava, que não era o que estava à procura. Por isso, o monólogo da atriz baseia-se numa conversa com uma neta que não está presente e que pode ser o retrato de uma pessoa que está só, mas que cuida do quotidiano, da educação, que passa estórias e experiências, como fazem todas as avós. Elas conseguem fazer tudo, conseguem cuidar dos netos e dos filhos ao mesmo tempo, que mesmo não estando em casa têm sempre o apoio da mãe, e por isso são super-avós. Neste espetáculo temos uma super-avó em cena.

 

V.A. – Na sua opinião, e partido daquilo que foi ouvindo junto dos idosos com quem contactou durante a recolha da informação, que relação têm hoje os jovens com as gerações mais velhas?

R.C. –  Há realidades muitos díspares. Daquilo que fui ouvindo junto destas pessoas, percebi que há avós que continuam a ter uma relação próxima com as suas famílias e que ainda têm aqueles típicos almoços de domingo, mas há outros casos em que não há estrutura familiar. Porém, eu acredito que as pessoas mais velhas têm muita importância na nossa educação porque nos contam, de uma forma empírica, situações do passado e por isso faz-me um pouco de confusão essa distância que muitas vezes se estabelece. No entanto, eu acho que a proximidade entre gerações está a voltar, acho que as pessoas começaram a sentir falta de estar junto dos mais velhos, que são os pilares da família.

 

V. A. – Qual tem sido a reação do público ao espetáculo?

R.C. – Tem sido muito giro. Esta avó é alentejana, isto porque no centro de dia havia muitas senhoras do Alentejo e a minha mãe e a avó da atriz são também alentejanas. E as pessoas que vão ver a peça têm reações engraçadas. Há netos que veem o espetáculo e dizem “isto lembra-me a minha avó” e há avós que dizem “eu realmente faço aquilo”. Esse amor entre netos e avós é reconhecido por todos e as pessoas identificam-se. É um espetáculo emotivo e mesmo aquelas pessoas que não têm uma relação próxima com os avós reconhecem isso.

 

V.A. – Vão estar em cena no Cineteatro Louletano nos dias 15 e 16 de janeiro. Esta é a primeira vez que o espetáculo sai da cidade de Lisboa?

R.C. – Sim. Estamos em cena desde setembro, mas apenas em dois teatros da zona de Lisboa. Agora vamos a Loulé e depois regressamos a Lisboa, para apresentar a peça num outro teatro. Loulé é a única cidade fora de Lisboa onde vamos estar. Mas é a primeira vez que trago um espetáculo a Loulé, mesmo enquanto atriz. No Algarve, apenas estive em Faro, com a ACTA.

 

V.A. – Este espetáculo é uma coprodução entre o Teatro do Eléctrico e o Cineteatro Louletano. Como surgiu esta parceria?

R.C. – O diretor do Teatro do Eléctrico, o Ricardo Neves-Neves, é de Quarteira e, sendo da zona, procurou estabelecer laços com o teatro da cidade de Loulé. Por isso, e porque nós também queremos sair de Lisboa e mostrar o nosso trabalho noutras regiões, essa parceria concretizou-se. A nossa intenção é fazer regularmente trabalhos com Loulé.

 

V.A. – Para além de trazer o espetáculo ao Cineteatro, a Rita vai também dar formação aqui em Loulé. Em que consiste essa formação e que públicos abrange?

R.C. – Vou dar formação a idosos, tal como já fiz aqui em Lisboa. É algo muito giro e que adorei fazer, daí repetir agora. Vai ser nos dias 15 (10h00 às 11h30), 16 (10h00 às 13h00/ 15h00 às 16h30) e 17 (10h00 às 13h00) de janeiro e basicamente é um atelier de formação sobre interpretação teatral direcionado para a 3.ª idade. Vai ocorrer no Ginásio dos Espanhóis e as inscrições estiveram abertas até dia 12 deste mês.

 

V.A. – A Rita tem um longo currículo, tendo já participado em vários espetáculos. Porém, não começou pela representação mas sim pela área social. Como se deu todo este processo e como surgiu o teatro na sua vida?

R.C. – Eu tirei o curso de Reabilitação e Inserção Social e trabalhei com mulheres vítimas de violência doméstica, com pessoas surdas e com jovens com problemas de aprendizagem. Mas a verdade é que o teatro sempre esteve presente na minha vida, desde muito nova, e por mais que tivesse gostado de trabalhar na área social, o gosto pelo teatro prevaleceu. Fiz as provas para a Escola Superior de Teatro e acabei por entrar e deixar de parte esta outra área. Desde que comecei, já fiz espetáculos muito diferentes e trabalhei em teatro, televisão e cinema. Mas esta é a primeira vez que estou no papel de encenadora.

 

V.A. – É cofundadora da companhia Teatro do Eléctrico, juntamente com o algarvio Ricardo Neves-Neves. Como surgiu a oportunidade de criar este projeto?

R.C. – Eu e o Ricardo fomos colegas de turma na Escola Superior de Teatro e logo na altura falávamos em criar uma companhia. Quando acabámos o curso, decidimos fazê-lo e desde 2008 que temos o Teatro do Eléctrico. Temos trabalhado bastante e acho que o resultado tem sido positivo. E queremos mais, claro.

 

Por VA/Sofia Coelho