Um louletano, natural de Salir, que conhece como poucos o que é ser empresário nesta região.
Quando pensou iniciar a sua atividade, e já lá vão 32 anos, alguma vez pensou chegar tão longe? A que se dedicava a Garvetur inicialmente?
Reinaldo Teixeira – (…) É um facto que nós, quando começamos, começamos com muita vontade e sem sabemos o dia de amanha. Estes 33 anos que no fundo passaram, parecendo que não, tornaram-se fáceis, porque com a ajuda de muitos amigos, com a ajuda de uma grande equipa, porque quando se fala na minha pessoa, eu gostava que ficasse claro que de facto não é a minha pessoa, é um conjunto de pessoas, desde sócios que fazem o favor de nos acompanhar desde o início desta caminhada, a um conjunto de colaboradores que nos têm tornado fácil esta vida, pela sua dedicação, pelo seu trabalho, pela sua vontade de vencer no seu dia a dia. (…) Se pensava cá chegar? Enfim, não tinha essa ideia, mas foi fácil cá chegar e estamos cheios de vontade para continuar. (…) Nós começamos com duas áreas, que era a Garvetur que tinha a vertente da área do turismo, da imobiliária, no fundo de tudo aquilo que era serviços (…) e, em simultâneo, montámos uma lavandaria, em que fazíamos os serviços para as várias unidades hoteleiras e apartamentos que eram alugados por nós e não só. (…) Depois especializámo-nos (…) e criámos um conjunto de empresas, que eu diria, estão ligadas a todos os sectores de economia da região. (…)
Começou pela área do imobiliário, depois seguiu para o Turismo, numa época em que os tempos eram áureos na área imobiliária. Como faz a gestão das empresas no sentido de enfrentar as dificuldades atuais?
R.T. – (…) Nós temos um conjunto de 14 sócios, nestas 38 empresas, que hoje repartem comigo essa gestão e tudo isso torna-se mais fácil. Mas baseia-se muito nisto: dar autonomia às pessoas, no fundo dizermos como é gostamos e como é que queremos, partilhar opiniões, discutirmos ideias, tomarmos decisões e depois dar liberdade para as pessoas também terem criatividade, terem o seu espaço de gestão. (…) Nós temos agora 500 colaboradores, mas no Verão são muito mais. Temos uma empresa de trabalho temporário, (…) que coloca perto de mil pessoas, se não mais, no período de verão. (…) Há quem diga que as pessoas são um problema, eu diria que as pessoas são a solução, e acho que o segredo é isso. (…)
A certa altura chegou a crise, em 2008 salvo erro, a recessão, a fuga de capitais, e a falta de investidores estrangeiros e alguns portugueses de calças na mão. Como é que conseguiu aguentar a turbulência desse período? Sentiu um abanão?
R.T. – Claro que sentimos. Aliás, sentimos, especialmente de 2008 em diante, (…) e sentimos atualmente ainda essa dificuldade. Porque as coisas de facto estão melhores, mas não se resolve, num espaço de 1 ano, dificuldades que foram criadas em 6/7 anos. O ano 2007 foi dos anos melhores a nível de imobiliária para nós, e em 2008 foi quando começou a piorar, sempre a decrescer até 2012/2013. (…) Mas como é que se conseguiu? (…) Só se consegue ultrapassar estas dificuldades quando se ganha um grau de confiança no universo com quem trabalhamos, que depois, nestes momentos, colaboram connosco e fazem questão de nos ajudar a ultrapassar as dificuldades. (…) Quando somos recomendados tudo é mais fácil. Por isso, o segredo, se é que há segredo nisto a não ser o muito trabalho e os valores que devem sempre nortear na vida, é, como disse, granjear à nossa volta um conjunto de pessoas que se reveem nas nossas atitudes e que criam connosco uma relação de confiança e nos ajudam nestes momentos difíceis.
Para além disso, noutra situação, surgiu-lhe pela frente a história do IKEA, pela sua localização, onde pensava ter os terrenos adequados para esse fim, e que julgava poder dar por adquirida a sua venda a essa empresa. Alguma vez se convenceu que o IKEA iria negociar consigo a compra desses terrenos?
R.T. – (…) Isso é uma história que está mal contada, que eu espero que o tempo esclareça (…) E eu estou sempre disponível, para, aos vossos microfones ou em público, contar essa história ao lado do meu interlocutor desde o início. Para ser objetivo: nunca falei com o IKEA! Nunca tive qualquer relação comercial com o IKEA! Nada contra o IKEA! (…). O nosso cliente nunca foi o IKEA. (…) Há um amigo e parceiro que me convida em 2005 para fazermos uma parceria para um projeto nos terrenos Loulé-Campina, que é junto à fábrica da cerveja. Nessa altura falámos com o então Presidente da Câmara que abraçou e acarinhou o projeto. (…) Disse-nos claramente que [o projeto] tinha o apoio da Câmara. (…) Eu, como acredito nas pessoas, (…) acreditei que por parte da Câmara não havia problema. (…) Em 2007 surge-nos o grupo Auchan (…) que disseram que estavam interessados no projeto, mas que queriam mais área. (…) Prometemos vender 40 hectares, e no dia seguinte a assinarmos o contrato tivemos a oportunidade de o apresentar ao Sr. Presidente da Câmara para lhe provar que o negócio estava confirmado. Tudo bem. Comprámos depois os 20 hectares que faltavam e, em inícios de 2008, a Auchan traz um projeto que tinha como âncoras, Jumbo, Decatlon ou Leroy Merlin, e IKEA. (…) Tudo normal (…) até que no final de 2008 o Sr. Presidente da Câmara de então diz-nos “O IKEA não quer ir para ali.” (…) Começa ai a disputa…
O falhanço desse negócio, dado por si, como quase adquirido, fez mossa na estrutura económica e financeira do seu grupo?
R.T. – Muita mossa. (…) Repare, um projeto com uma dimensão destas, eu posso dizer-lhe, isto é público, que tinha 100 milhões de investimento, (…) cai na altura em que começa a crise, está claro que faz uma mossa grande. (…)
Como empresário, com tantas atividades, porque entra na área da educação?
R.T. – (…) Eu acho que a educação é uma missão. Enquanto cá estamos na vida, passamos aquilo que sabemos e aquilo que vamos adquirindo. Acho que é um dever nosso deixarmos esse cunho ao longo da vida. Ensinar, educar, é, de facto, gratificante e mais ainda aliando isso a uma entidade e instituição de grande prestígio nacional e internacional. Sou um dos gerentes, somos dois sócios, a nossa empresa e a Calçada Correia, com quem temos a melhor relação. Temos também uma equipa e todo o pessoal, a quem delegamos, e quem se deve o sucesso do colégio (…)
Nem só de pão vive o homem, o Reinaldo Teixeira, a certa altura, também lhe começa a dar uma veia altruísta (…) e começa a dedicar-se ao social. Explique lá esse apoio às IPSS?
R.T. – Não é de agora. (…) Eu acho que as empresas, os empresários, bem dizendo, têm a obrigação de colaborar com tudo o que são entidades de solidariedade social. E nós, desde sempre (…) tivemos disponíveis para colaborar com todas as entidades a nível de solidariedade social e a nível desportivo. Tem a ver com a nossa obrigação.
Que instituições apoia?
R.T. – Não vou especificar nenhuma. Sempre que podemos ajudamos (…) Tentamos arranjar eventos para que haja dinheiro, e muitas vezes serviços que, no fundo, equivalem a muito dinheiro. E fazemo-lo não só no Concelho de Loulé, mas em todo o Algarve, e não só. (…)
Como vê o Algarve turisticamente após este período de crise? A economia da região está a recuperar? O que é que acha que é preciso fazer para que o Algarve continue a crescer?
R.T. – O Algarve, vejo-o bem e recomenda-se. Eu acho que nós, às vezes, devemos ser críticos internamente, para tentar conseguir melhor, mas também devemos ter algum cuidado na maneira como criticamos. (…) Quem nos visita gosta muito da nossa região, e nós somos, de facto, privilegiados em viver no Algarve. O Algarve, nos últimos 30 anos, cresceu bastante e, se nós virmos bem, a nível de infraestruturas evoluiu muito. Mas por muito que se faça, há sempre muito mais a fazer. Acho que hoje, no Algarve, tem que se ter muito cuidado a nível da gestão das infraestruturas (…) sou muito sensível à questão do paisagismo, a sinalética, de facto são muito importantes, e depois a nível macro diria que faz falta que o Algarve consiga aumentar o seu número de residentes, preferencialmente estrangeiros, porque se tivermos aqui mais estrangeiros a residir, esta sazonalidade que se sente a partir de setembro deixaria de se sentir. (…) Uma outra área que eu acho que faz falta no Algarve, é que nós tenhamos uma autoestrada digital. Ou seja, que as pessoas (…) tenham acesso à internet com uma velocidade muito boa. Porque imaginem o que é estar na nossa região, com este sol que nós temos aqui ao longo de todo o ano, com este clima ameno e esta luz que é inconfundível e invejada por todo o mundo, a trabalhar e a decidir coisas e em contacto com todo o mundo, em vez de estar num sítio onde chove, cinzento, não há sol, faz frio… Nós temos de facto aqui uma qualidade que devemos saber estimar e ao mesmo tempo divulgar. (…)
Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total fm” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 06 de janeiro.
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