Era 12h00 quando hoje se abriram pela primeira vez ao público as portas do McDonalds de Loulé.
Entrevista com Joaquim Jorge, proprietário do McDonalds de Loulé
Joaquim Jorge, 50 anos, licenciado em Gestão de Empresas é o empresário responsável por três franchisings da marca McDonald’s no Algarve. Presentes em Vilamoura, no Algarve Shopping e mais recentemente a unidade de Loulé que será inaugurada ainda este mês. Natural de Almada, o empresário de espírito ambicioso lançou-se numa parceria com a companhia americana, agarrando a oportunidade que lhe foi proposta. Quinze anos depois, a aposta é em Loulé, onde está pronto a funcionar um restaurante McDonald’s, com McDrive, esplanada, estacionamento e zona de lazer para crianças, já para não falar, de todo o equipamento digital que facilita e agiliza os pedidos e os meios de pagamento.
“A Voz do Algarve” – Antes de se tornar franchisado da McDonald’s trabalhava na área da banca, onde era bem-sucedido. O que o fez deixar a profissão que exercia para se tornar parceiro do McDonald’s?
Joaquim Jorge – Eu penso que cada um de nós, desde muito jovem, tem algumas ambições e um tipo de personalidade definido, que faz com que queiramos determinadas situações. Há pessoas que querem um emprego estável para toda a vida e há outras, como eu, que têm outros objetivos, que é ter o seu próprio negócio. Aos 18 anos eu tive o meu primeiro negócio. É algo que nasce connosco, um traço de personalidade. Então seguimos com o que a vida nos permite, e a determinada altura, quando nos sentimos com capacidade para aceitar determinados desafios, vamos à procura deles.
V.A. – Foi complicado tornar-se Franchisado do McDonald’s?
J.J. – Nós quando entramos para o McDonald’s somos objeto de uma triagem que é feita à nossa atividade anterior, para garantir que somos pessoas bem-sucedidas profissionalmente. Só depois de feita essa triagem e de garantido esse sucesso em termos profissionais, é que podemos integrar a McDonald’s. Além disso, é preciso provar que temos capitais próprios positivos para entrar no negócio.
V.A. – Considera-se um empresário “especial” por ter conseguido prestar essas provas para poder ser franchisado?
J.J. – Quem quer ser empresário, se não escolher uma marca como a McDonald’s, não tem que fazer provas do seu sucesso profissional anterior. E, nesse sentido concordo com o que diz, porque é necessário correr riscos, que normalmente as pessoas não correm. E o principal risco que corremos, antes de sermos franqueados da McDonald’s, é que além de passarmos pela triagem, somos obrigados a romper com a profissão de sucesso que tínhamos e a entrar num regime de exclusividade com a McDonald’s. O que nos obriga a estar um ano em formação por conta própria, sem qualquer tipo de remuneração e sem qualquer garantia da marca de que nos será atribuído um restaurante. Só depois da formação, que é feita em Portugal e nos Estados Unidos, se bem-sucedida, é que estamos aptos a receber um restaurante.
Portanto, esse tipo de risco que se corre durante esse ano, ao romper com a anterior profissão é efetivamente uma situação muito especial.
V.A. – Porque decidiu apostar no Algarve, nomeadamente em Vilamoura?
J.J. – Quando nos candidatamos a um restaurante da McDonald’s, podemos candidatar-nos a uma área ou a todo o território. No meu caso a minha candidatura era entre Coimbra e o Algarve, uma vez que eu vivia em Lisboa, mas também tinha algumas raízes aqui em baixo, pois os meus pais são de Alvor. Desse modo, tentei conciliar uma das moradas. Quando eu terminei a minha formação, de cerca de 18 meses, Vilamoura era o local apto a ser entregue e eu recebi-o com carinho e desenvolvi-o. E foi uma boa aposta, embora sofra os normais efeitos da sazonalidade Algarvia.
V.A. – O que o levou agora a escolher novamente o Concelho de Loulé, nomeadamente a cidade de Loulé?
J.J. – Como referi, existe um trabalho que é feito em parceria entre o franchisado e a marca. Andávamos à procura de locais que se justificassem, para as duas partes, para um investimento adicional. E estando eu já há 15 anos implementado em Vilamoura, conhecendo muito bem o concelho, e tendo um estudo de mercado feito em Loulé com resultados que se mostraram positivos, decidimos avançar com esta unidade aqui em Loulé.
Aqui na zona tínhamos 2 ou 3 terrenos identificados, e considerámos que esta zona é uma entrada de Loulé com bastante movimento. Foi uma oportunidade de mercado. Qualquer empresário de sucesso, tenta encontrar a sua melhor localização e foi nisso que pensámos.
V.A. – Como terá conhecimento, têm havido várias tentativas de investimento no concelho, que se têm debatido com enormes dificuldades. Para vocês foi um processo fácil?
J.J. – Não existe qualquer tipo de benesse por ser a marca McDonald’s. Somos, sim, persistentes. Este projeto já tem a decisão de avançar há algum tempo e a McDonald’s cumpre com todos os procedimentos obrigatórios que são necessários. Existem claro, algumas burocracias que podiam ser simplificadas, sem dúvida, a nível de licenciamentos... e nesse sentido a Câmara Municipal de Loulé tem-nos ajudado, na medida do possível, a tentar ultrapassar essas burocracias. São situações que se devem ao próprio sistema, que não está preparado para os investimentos que se querem fazer, e que por isso se tornam mais demorados.
De resto, penso que para o Concelho, qualquer investimento com um pólo de desenvolvimento económico e com criação de postos de trabalho, deve ser bem-vindo, porque contribui para o crescimento da zona. E, felizmente, tenho sentido isso por parte da população.
V.A. – Quanto tempo demorou desde que tomaram a decisão de abrir o McDonald’s em Loulé, até agora, à abertura?
J.J. – Desde a tomada de decisão, passaram cerca de 3 anos. Depois, a partir do momento em que tivemos os licenciamentos de construção, foi relativamente rápido, em cerca de 8 a 9 semanas conseguimos erguer o edifício, mesmo porque esta é uma construção que já está padronizada, grande parte é feita em estaleiro, e depois é relativamente rápida a sua implementação no terreno.
V.A. – Que outras dificuldades enfrentou além da burocracia?
J.J. – A mão de obra no Algarve nesta altura, face à sazonalidade nunca é fácil. Embora estejamos a atravessar um período de taxas de desemprego elevadas, o Algarve, neste período específico, tem uma grande procura de trabalhadores, por parte das empresas que operam no Algarve. Nesse sentido sim, tivemos algumas dificuldades. No entanto, conseguimos antecipar esse recrutamento para abril, o que nos permite já ter equipa feita neste momento, e aguardamos que tudo se desenvolva para que possamos pôr a equipa a rentabilizar. Neste momento essa equipa está em formação em Vilamoura, onde ficarão até abrirmos esta unidade.
V.A. - Quantos postos de trabalho vão criar com esta unidade?
J.J. – Estão a ser criados 50 postos de trabalho diretos, entre equipa de gestão e equipa de funcionários, maioritariamente, diria que 99%, são pessoas do Concelho de Loulé.
V.A. – Também existiu essa preocupação na contratação da equipa para a preparação do terreno e da construção?
J.J. – A empresa que fez todos os arruamentos e a parte exterior é a empresa Candeias & Silva, que é mesmo do Concelho de Loulé. Aliás, a nossa intenção é associarmo-nos a todas as empresas que pudermos recorrer daqui, do Algarve, e que tenham capacidade para dar resposta às necessidades da McDonald’s, pois, além de sair muito mais barato, permite a oportunidade de criar relações com as empresas locais. Nomeadamente a empresa dos jardins, a Jardim Vista, tem sede no Algarve e, embora opere em todo o país, a sua grande vertente é o Algarve. Só a parte do edifício é que não foi assim, porque está padronizado, e os materiais já vêm feitos, previamente, sendo nossa responsabilidade a instalação no local.
V.A. – O investimento nesta unidade hoteleira da McDonald’s é muito alto? Quem investe, a marca ou o franchisado?
J.J. – O franchisado e a companhia são parceiros, os dois investem. A McDonald’s investe no terreno e no edifício exterior, e o franchisado investe em tudo o que seja decoração e equipamento.
Nós não gostamos muito de referir os montantes que estão envolvidos, mas quem olha para uma infraestrutura desta natureza poderá ter uma ideia daquilo que é. Os investimentos nesta ordem de empresa são sempre avultados.
V.A. – Qual o retorno que espera ter e a que prazo?
J.J. – Nós pensamos que irá ser um sucesso, face aos estudos de mercados que evidenciamos. O prazo, isso é uma incógnita que eu gostava de poder responder, mas não posso. Um projeto desta natureza precisa de alguns anos para ter retorno.
V.A. – Existe uma ideia generalizada de que o lucro dos franchisings e em especial das grandes superfícies não fica em Portugal. O que tem a dizer sobre isso?
J.J. - Todos os impostos que se pagam ficam em Portugal. A McDonald’s já fez um levantamento sobre tudo o que são impostos que se pagam em Portugal, e paga muitos milhões de euros ao Estado Português. Existe de facto uma pequena parte, que são os royalties, que efetivamente vão para os detentores da marca, por a utilizarmos. Mas tudo o resto, a maior percentagem, fica cá em Portugal. Além disso não podemos ver apenas os lucros como sendo a parte que fica em Portugal, devemos lembrar-nos também dos impostos, dos postos de trabalho e de todo o desenvolvimento da economia local em função da própria instalação de uma unidade destas no Concelho.
V.A. – Com esta nova unidade em Loulé, passa a ter três lojas. Pensa evoluir para mais?
J.J. – O futuro, como se costuma dizer na gíria popular, só Deus saberá. Mas estamos cá, temos uma idade jovem relativamente ao resto dos franchisados, portanto, o céu é o limite.
Nathalie Dias