Banca europeia é vulnerável à deterioração da qualidade dos imóveis, face aos riscos de recessão e da crise energética.

A subida das taxas de juro diretoras pelo Banco Central Europeu (BCE) em 200 pontos base mexe - e muito - com a atividade bancária na Zona Euro. Se, por um lado, o regulador europeu está confiante de que a maioria dos bancos vai melhorar a sua rentabilidade com o aumento dos juros, por outro alerta para o risco de deterioração da qualidade dos ativos nos próximos meses. Diante de um cenário também marcado pelo risco de recessão e pela crise energética, o BCE alerta os bancos europeus para as vulnerabilidades do mercado imobiliário geradas pela subida das taxas de juro.

Para o regulador liderado por Christine Lagarde, os bancos europeus deverão dar “uma atenção particular” às empresas de consumo intensivo de energia. Isto porque “muitos setores de uso intensivo de energia estão no início da cadeia de valor, onde as interrupções podem desencadear reações em cadeia”, alertou Andrea Enria, presidente do Conselho de Supervisão do BCE.

É neste sentido que o guardião da zona euro está a focar as suas atenções em analisar a exposição de créditos e derivados dos principais comerciantes de matérias-primas energéticas. E está também a analisar a exposição bancária ao setor de serviços públicos de energia ('utilities'), ao mesmo tempo que monitoriza os mercados de derivados energéticos, destacou ainda Andrea Enria, numa audiência na comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu.

"A exposição aos serviços públicos de energia aumentou cerca de 14% nos primeiros três trimestres do ano. E uma maior extensão do crédito pode aproximar os bancos dos seus limites internos de risco", disse ainda o presidente do Conselho de Supervisão do BCE, cargo que ocupa desde 2019. Antes, Andrea Enria era o líder da Autoridade Bancária Europeia.

Subida dos juros expõe vulnerabilidades do imobiliário residencial

A acelerada normalização das taxas de juro diretoras pelo BCE também teve efeitos no mercado imobiliário, alerta o italiano. Diante de juros mais elevados, os mercados residencial e comercial ficaram mais vulneráveis, até porque são sobretudo alavancados por financiamento bancário. No total, estes mercados representam 60% do capital ordinário de nível 1 dos bancos na área do euro.

"Grande parte deles [empréstimos] estão expostos a empresas altamente alavancadas. Essa é a categoria mais arriscada de uma classe de ativos de alto risco, e os bancos continuam a fazer empréstimos desse tipo", alertou, recordando que o BCE tem este tipo de créditos debaixo de olho.

Embora a análise do BCE indique que a generalidade dos bancos vai sentir que "o aumento das taxas de juro deverá melhorar a sua rendibilidade", Andrea Enria aponta que alguns modelos de negócio poderão ser afetados com uma maior subida dos juros, porque a capacidade de pagamento dos seus mutuários é particularmente sensível ao preço do dinheiro.

Os riscos subjacentes apontam para uma provável deterioração da qualidade dos ativos nos próximos meses. Apesar da redução do índice geral de crédito malparado (NPL) nos últimos trimestres, os NPL no segmento de crédito ao consumo e incumprimento antecipado, tanto para famílias como para empresas, estão a dar sinais de subida.

"Estamos a enfrentar um período de crescimento [económico] mais lento e possível recessão, com grande incerteza sobre o fornecimento de energia. Embora as taxas de juro e margens mais altas estejam a impulsionar os lucros dos bancos neste momento, também estão a afetar a capacidade dos clientes altamente alavancados pagarem as suas dívidas (…), podendo desencadear ajustes acentuados nos mercados financeiros mais voláteis", resumiu o responsável.

Por tudo isto, o supervisor europeu tem alertado o setor para se preparar para os possíveis impactos adversos desta conjuntura incerta nos seus negócios. “Vários bancos parecem utilizar pressupostos macroeconómicos relativamente moderados nos seus cenários adversos”, o que se traduz num impacto moderado nos seus índices de capital. Portanto, o planeamento de capital será analisado de perto para garantir um nível adequado de conservadorismo, avisou ainda.

 

Por: Idealista