O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, participou hoje, em Genebra, na Suíça, no Colóquio Internacional «O poder da imagem na obra de Lídia Jorge», que dá início à cátedra da escritora, na universidade local.

Criada por protocolo entre o Camões Instituto e a Faculdade de Letras da Universidade de Genebra, a abertura da cátedra decorreu esta manhã, na Universidade de Genebra, com cerca de cinquenta pessoas na assistência.

"A imagem que queremos projetar de Portugal no exterior faz-se de uma diversidade de realidades e nada melhor que a literatura para nos desafiar a entender essas realidades", afirmou o ministro Augusto Santos Silva, realçando a importância da literatura para a política externa. 

A Cátedra Lídia Jorge, criada na instituição, tem como objetivo prestar homenagem a uma das personalidades literárias mais importantes da atual literatura portuguesa, reconhecida internacionalmente com diferentes galardões, como o da Feira Internacional do Livro de Guadalajara 2020, e praticando diferentes géneros literários, entre os quais se destaca, em particular, o romance. 

"Eu pensava que as cátedras eram destinadas a escritores que já não vivessem neste mundo", disse Lídia Jorge na sessão. "Aconteceu que me apresentaram a situação de uma maneira diferente, dizendo que quereriam reforçar com algumas pessoas que pudessem dar o seu testemunho vivo para tornar mais dinâmico o arranque de algumas cátedras", prosseguiu a escritora, salientando que se sentiu muito honrada pelo convite e com uma certa responsabilidade. 

"Achei a ideia de renovar o conceito das cátedras algo muito positivo, até porque se pode criar uma dinâmica de aproximação muito interessante entre a língua portuguesa e os estudantes suíços", afirmou a autora de "O Cais das Merendas", deixado transparecer o seu forte agrado pela iniciativa.

Ao longo destes dois dias de colóquio, serão abordados os grandes temas da obra da autora, como a relação com a história, a memória, o papel da mulher na sociedade. 

O objetivo será contribuir para iluminar um pouco mais o terreno a desbravar, centrando-se na imagem da escritora. 

"Considero que a literatura é uma disciplina ética. A literatura enfrenta o mal e demonstra-o. Desoculta aparências. Ela tende sempre a criar um novo futuro e a criar laços de fraternidade entre os seres humanos", disse Lídia Jorge, nomeada este ano para o Conselho de Estado, pelo Presidente da República, salientando que, nos seus livros, o traço da compaixão está sempre presente.

"Tivemos uma diáspora dupla; de pobres e ao mesmo tempo de colonos, o que é ‘contrastivo’ mas é o cerne da nossa complexidade", concluiu a autora, em declarações à agência Lusa, afirmando que são essas mesmas experiências que fazem de Portugal um país que tem muito para oferecer à Europa.

A cátedra Lídia Jorge na Universidade de Genebra, na Suíça, foi anunciada no passado mês de junho, pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

Esta cátedra vem dar sequência à parceria que o Camões e a Faculdade de Letras da Universidade de Genebra “desenvolviam desde 2008, e ao trabalho de promoção e divulgação da língua portuguesa e das culturas de expressão portuguesa” que o Centre d’Études Lusophones (CEL) desta universidade encetou em 2009.

A Cátedra Lídia Jorge é a 54.ª da rede que o Camões vem criando em parceria com instituições de ensino superior em 22 países, no âmbito da qual cerca de 500 docentes e investigadores desenvolvem ensino e investigação em torno de temáticas da língua, da cultura, da história e da sociedade, frequentemente numa perspetiva abrangendo não apenas Portugal, mas os países e regiões de língua portuguesa.

Esta será ainda a segunda cátedra daquele organismo na Suíça, onde desde 2012 existe a dedicada a Carlos de Oliveira, no Romanisches Seminar da Universidade de Zurique, com a qual a Cátedra Lídia Jorge vai colaborar.

Nascida há 75 anos em Boliqueime, no Algarve, Lídia Jorge foi já distinguida, como o Grande Prémio de Literatura dst (2019), o Prémio Vergílio Ferreira (2015), o Prémio Luso-Espanhol de Cultura (2014), o Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass (2006), o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d'Escritas (2002), o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia (2000) e o Prémio D. Diniz da Casa de Mateus (1998).

Lídia Jorge estreou-se em 1989 com o romance "O Dia dos Prodígios".

"Notícia da Cidade Silvestre", "O Jardim sem Limites", "A Costa dos Murmúrios", "O Vale da Paixão", "O Estuário" são outros dos seus títulos, a que se juntou, em 2019, "Em Todos os Sentidos", compilação de "crónicas de reflexão quotidiana.

Em 2018, Lídia Jorge editou o seu primeiro livro de poesia, "O Livro das Tréguas".

O colóquio internacional de homenagem à autora prolonga-se até quinta-feira, em Genebra, com um foco sobre a representação mental de uma realidade sensível e simultaneamente a sua representação linguística e pictural.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, acabou o dia com uma visita ao CERN - Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, onde se encontrou com funcionários portugueses do CERN e membros da Associação dos Graduados Portugueses na Suíça (AGRAPS).