Mauricio Moreira descontraiu ontem finalmente, após ter vestido pela primeira vez na sua carreira a amarela na Volta a Portugal em bicicleta, hesitando ainda a olhar para uma camisola que era um sonho e que espera levar até Gaia.

“Não quero olhar muito para baixo. Mas vou ter de me acostumar. Estou muito contente. Acho que ainda não caí na realidade”, disse, enquanto ‘espreitava’ a camisola que o ‘transformou’.

Contido nos encontros com jornalistas nos três primeiros dias da 83.ª Volta a Portugal, o uruguaio da Glassdrive-Q8-Anicolor era hoje uma pessoa diferente, parecendo que a vitória na Torre e aquele símbolo que trazia no corpo lhe deram uma alma nova – embora sempre tímido, arrancou sorrisos e gargalhadas, mostrando-se descontraído.

“Já tive a oportunidade de ser líder de outras corridas, nunca fui líder da Volta a Portugal. É um sonho tornado realidade. Sei que vai pesar, mas espero bem aguentar esta camisola e equipa a alegria que merece”, afirmou, garantindo não acreditar que já esteja decidido que a luta pela geral esteja reduzida a três: ele próprio, o seu colega Frederico Figueiredo e a Luís Fernandes (Rádio Popular-Paredes-Boavista).

Moreira nunca escondeu que chegou à 83.ª Volta a Portugal numa crise de confiança, tendo recuperado progressivamente a esperança com o resultado no prólogo, em que foi segundo, e nas duas tiradas anteriores, em que foi terceiro na discussão ao ‘sprint’.

“[Sábado], posso dizer que estava bastante nervoso com esta etapa. A falar com o meu psicólogo, com a minha família, a equipa, eles fizeram-me lembrar que estou aqui com um objetivo, que a equipa tem um objetivo. Tenho de estar bem para ter feito nos primeiros nas primeiras etapas. Quando entrei na subida, estava a sofrer um bocado mais da conta, perguntei para um colega de equipa ‘estamos a ir rápido ou sou eu que não estou muito bem?’. Mas ele disse-me que não, que estava a ir rápido e isso deu-me mais tranquilidade”, revelou, entre sorrisos.

O vice-campeão da última edição assumiu que ontem teria “gostado muito que o Fred ganhasse a etapa”, depois do excelente trabalho que o seu companheiro fez a selecionar (e eliminar) o grupo de candidatos.

“Ganhei eu mas é como se tivesse ganhado ele, porque foi graças a ele que conseguimos essa diferença toda para a geral. Esta camisola é mais da equipa do que minha. O Fred colocou o seu ritmo – posso dizer que um ritmo bastante torturador”, brincou.

Moreira, que ‘recebeu’ a amarela do seu companheiro Rafael Reis – o campeão nacional de contrarrelógio cumpriu o seu destino e chegou num ‘grupeto’ a mais de 30 minutos -, lidera a geral com 30 segundos de vantagem sobre Figueiredo, e 31 sobre Fernandes, que é terceiro. O quarto, o campeão de 2013 Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), está já a 02.10 minutos.