«Considero que é uma justa homenagem feita ao nosso país, aos heróis portugueses e ao grande feito que foi a primeira travessia aérea sobre o Atlântico Sul, que revela bem o espírito e a garra dos portugueses», reagiu o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, ao ter conhecimento de que o Conselho de Ministros aprovou ontem, 15 de junho, uma resolução que atribui o nome do Almirante Gago Coutinho ao Aeroporto Internacional de Faro.

Vítor Guerreiro recorda o momento em que, em boa hora, esta proposta foi aprovada e acolhida com todo o entusiasmo, em reunião de Câmara, ainda no ano de 2019, sob proposta do munícipe são-brasense, Tomás Nunes. Posteriormente, um longo caminho foi percorrido na defesa deste justo tributo. Em 2019, uma proposta foi aprovada, também por unanimidade, em Assembleia Municipal. Desde a primeira hora o Município defendeu esta justa homenagem a uma personalidade singular, de raízes algarvias, a quem a ciência e a aviação muito defendem. Nesta senda, o edil são-brasense Vítor Guerreiro apresentou em 2019 a proposta em sede da Comunidade Intermunicipal do Algarve – AMAL. A sua votação foi, contudo, protelada pela pandemia.

Esta proposta ganhou novo impulso este ano de 2022, quando  se comemora o primeiro centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul (100TAAS), com o forte empenho do Movimento “Cidadãos pelo Aeroporto Gago Coutinho”,  entusiasticamente liderado  pelo capitão de Abril, o são-brasense Almirante Martins Guerreiro, e integrado por antigos deputados da Assembleia Constituinte: Carlos Brito, Afonso Dias e Luís Filipe Madeira, entre muitos outros cidadãos, entre os quais inúmeros são-brasenses, que reconheceram desde a primeira hora a relevância desta iniciativa que reconhece o enorme valor do navegador Gago Coutinho (1869-1959), com ascendentes paternos são-brasenses, que ao lado de Sacadura Cabral marcou para sempre a História da Humanidade, deixando ainda um legado de conhecimento científico do qual ainda hoje todos beneficiamos.

Foi na cerimónia de lançamento do programa de Comemorações do Centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul em São Brás de Alportel, a 17 de fevereiro deste ano, que o Almirante Martins Guerreiro voltou a lançar este desafio publicamente, com o apoio inequívoco da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, e posteriormente, em boa hora, dos restantes municípios algarvios.

“Atribuir ao aeroporto de Faro o nome de “Aeroporto Almirante Gago Coutinho” seria uma forma de nos projetarmos no mundo, lembrando, o engenho e a capacidade criativa da gente portuguesa e o seu contributo para o desenvolvimento da humanidade”, afirmou na altura o Almirante.

Empenhado, o Almirante Martins Guerreiro conseguiu ainda outro apoio de peso: a Marinha Portuguesa que este ano tem vindo a empenhar esforços na criação de um programa comemorativo da 100TAAS que envolve o nosso país e todos os países por onde Gago Coutinho e Sacadura Cabral passaram até completarem a extraordinária travessia.

“Saldou-se assim uma dívida histórica que recebeu agora o justo pagamento, precisamente no ano das comemorações do centenário da  1ª Travessia do Atlântico Sul (100TAAS), o feito mais memorável deste verdadeiro herói. Este batismo chega em boa hora, enaltecendo uma personagem importantíssima da nossa História e da nossa Ciência. O navegador, geógrafo e inventor de aparelhos de navegação que marcaram a história da aviação mundial, como é o caso do sextante, garante com a atribuição de seu nome, a dignificação de uma infraestruturas de cariz internacional, fundamental à Região do Algarve e ao País, no garante das relações internacionais turísticas, comerciais e humanitárias. Junho mês que marca, o nascimento do Município de São Brás de Alportel, o dia de Portugal, a chegada da Travessia do Atlântico Sul, contará com mais esta celebração que nos deixa orgulhosos do conterrâneo são-brasense Almirante Gago Coutinho”, sublinha Vitor Guerreiro.

Importa recordar que São Brás de Alportel tem em curso um programa multidisciplinar e intergeracional comemorativo do Centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul que tem vindo a contar momentos musicais, artísticos, literários, infantojuvenis, entre outros.

Reconhecendo e homenageando Gago Coutinho, o concelho tem a réplica artística do hidroavião “Santa Cruz”, da autoria de Carlos de Oliveira Correia, instalada a 30 de março de 2017, data que assinalava os 95 anos da Travessia e está localizada junto à Rua Dr. Alberto de Sousa, nos espaços exteriores do edifício das Piscinas Municipais Cobertas.

 

As origens algarvias e são-brasenses de Gago Coutinho

O seu avô paterno, Manuel Viegas Gago Coutinho foi livreiro em Faro e foi Cabo de Esquadra do Regimento de Artilharia de Faro.

Segundo Gago Coutinho, o seu pai, José Viegas Gago Coutinho, “era um homem de reduzida educação literária. Só a primária, mas conhecia a escrita comercial, em que praticava. (…) Era homem alto, desempenado, bem branco”, oriundo de São Brás de Alportel. Sua mãe, Fortunata Maria Mendes Coutinho, que segundo relatos que nos chegam terá sido originária de Faro, era uma “senhora pequena, morena, algarvia, filha de padeiros e que deveria ter ascendência moura, nada mais sei a não ser que um irmão dela era patrão de um caíque da costa e várias vezes o vi visitar a irmã Belém”.

Muitos juraram e outros ainda hoje afirmam que o aviador cientista é mesmo são-brasense de nacimento, levado ainda recém-nascido para Lisboa onde foi registado…

A verdade é que, naquela época, a Câmara Municipal acompanhou o entusiasmo geral, tendo realizado a 8 de maio de 1922 uma Sessão Solene em honra dos aviadores e um cortejo cívico nessa mesma noite, tendo-se mantido o edifício dos Paços do Concelho iluminado.

À rua principal da vila, na época, foi dado o nome do “aeronauta” Gago Coutinho, que se mantém até hoje.

 

Cem anos depois da Chegada ao Brasil

Na próxima sexta-feira, dia 17 de junho, justamente 100 anos após a chegada dos aviadores ao Rio de Janeiro, este feito será comemorado com especial entusiasmo, na terra que se orgulha das origens de Gago Coutinho.

A encerrar um ciclo de palestras, decorrerá pelas 17h30 na Biblioteca Municipal a palestra “Ecos da Histórica 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul”, pela arquivista do Município de São Brás de Alportel, Vera Gonçalves.

Na manhã de sábado, dia 18, esta efeméride inspirará uma Manhã Brasileira, no Mercado Municipal, para recriar os aromas e paladares do Brasil, com artesanato, animação e gastronomia, numa iniciativa do município que conta com a colaboração da comunidade brasileira residente.

Até ao final do mês, na Biblioteca Municipal e na Galeria Municipal estão patentes exposições documentais sobre a Travessia. No átrio do Cine-Teatro originais réplicas de hidroviões podem ser apreciadas, numa mostra que nasceu de um desafio artístico lançado aos artesãos e artistas são-brasenses.