O homem acusado de raptar e violar duas mulheres no Algarve, Donald Fernandes, luso-canadiano de 36 anos, negou hoje em tribunal os crimes que lhe são imputados num depoimento que durou cerca de duas horas e meia.

O arguido, que começou a ser ouvido às 14:30 no Tribunal de Faro, contou ter conhecido as mulheres em maio de 2019 num bar de ‘striptease’ em Vilamoura, onde trabalhavam, negócio no qual disse estar a planear também investir.

Segundo a acusação, a brasileira Layla da Silva e a britânica Lauren Caton terão ficado retidas vários dias numa casa do arguido em Boliqueime, Loulé, onde alegadamente foram vítimas de violação, ofensas, agressões várias e ameaças de morte.

Em tribunal, o arguido negou todas as acusações, sublinhando que é “tudo mentira” e sugerindo que ambas poderão ter combinado incriminá-lo, no caso de Layla, por não ter desenvolvido uma relação amorosa com ela, e, no caso de Lauren, por ter problemas psicológicos e querer dinheiro.

Donald admitiu, no entanto, ter estabelecido uma relação próxima com Layla enquanto esta esteve na casa, precisando que isso aconteceu entre 16 e 20 de maio, altura em que se “aproximaram muito”, tendo trocado “abraços e um ou dois beijos”, sem nunca ter havido sexo.

Contudo, o arguido ter-se-á arrependido, dizendo a Layla que “tinha cometido um erro” pois ainda gostava da namorada, Soukayna El Khayati, com quem estava “a passar um mau momento”, ao que Layla lhe terá respondido que o melhor seria ir-se embora da casa.

Donald relatou que, nesse período, raramente dormia na casa de Boliqueime, onde pernoitavam Layla e Soukayna, dormindo numa casa em Albufeira onde, segundo a acusação, terão sido cometidos os crimes contra a brasileira.

Segundo a acusação, Layla - que alegadamente tinha intenções de trabalhar no bar que Donald queria abrir, razão pela qual, segundo o arguido, estava alojada na sua moradia -, terá depois conseguido fugir da casa de Boliqueime, em 21 de maio.

Questionado pela juíza que preside ao coletivo que está a julgar o caso que justificação teria Layla para acusá-lo, Donald respondeu que “tem pensado nisso todos os dias no último ano” e que a única coisa que lhe ocorre é que pode ter-lhe dado “a ilusão” de que ambos teriam uma relação amorosa.

No caso da britânica Lauren, as razões que o arguido alega para a sua permanência na moradia de Boliqueime são idênticas, o que aconteceu depois de se terem encontrado uma segunda vez, em 27 de maio, junto ao bar de Vilamoura onde esta trabalhava.

Segundo a acusação, Lauren terá ficado retida contra a sua vontade nessa mesma casa, numa situação que envolveu também agressões, violações e ameaças, entre 27 de maio e 05 de junho, dia em que pediu ajuda no centro comercial Fórum Algarve, em Faro, deixando um papel a um funcionário de um restaurante onde tinha escrito que chamasse um segurança.

Em tribunal, Donald, que também negou ter tido sexo com Lauren ou cometido qualquer um dos crimes de que está acusado, relatou que a britânica “tinha psicoses e esquizofrenia”, dizendo ainda que não confiava nela.

O arguido contou que Lauren lhe agradeceu o facto de tê-la deixado ficar na sua casa em Boliqueime, tendo-lhe dado 450 euros – dos quais 100 lhe foram devolvidos -, dinheiro que Lauren queria que lhe fosse restituído e que pode ter motivado as acusações.

Perante a explicação de que Lauren teria incriminado Donald apenas por causa de uma quantia de 350 euros, a juíza que preside ao coletivo manifestou-se irritada com o arguido, numa sessão que já ia longa, pedindo-lhe que não fizesse de si “parva”.

Durante a manhã, foi ouvida uma testemunha que disse ter visto, por mais do que uma vez, Donald com Layla – numa das vezes, o arguido tê-la-á levado para uma reunião de trabalho que ia ter com a testemunha -, e que esta aparentava estar “tranquila”.

Foram também ouvidos dois inspetores da Polícia Judiciária (PJ), na altura estagiários, que participaram nas buscas à casa de Boliqueime e que contaram que Donald atirou por uma varanda um objeto que parecia ser uma arma, que se veio a concluir ser uma réplica, o que o arguido admitiu durante a tarde.

Foi ainda ouvido o comissário da PSP de Faro que integrava a equipa que se deslocou ao Fórum Algarve no dia em que Lauren pediu ajuda e que relatou que, nesse dia, já nas instalações da PSP, se veio a verificar que a britânica “apresentava ferimentos”.

A testemunha relatou que, na ocasião, Donald se mostrava “algo inconformado”, enquanto Lauren estava “bastante nervosa” e que só veio a relatar mais pormenores sobre a situação quando foi levada para a esquadra da PSP.

Donald Fernandes está acusado de dois crimes de rapto agravado, seis de violação, dois de ameaça agravada, dois de ofensa à integridade física qualificada e dois de furto.

As alegações finais estão marcadas para 23 de março às 09:30.