Francisco Amaral, Presidente da Câmara Municipal Castro Marim, explica como se encontra a situação do concelho e revela como foi controlado o impacto do Covid-19 no município. Tema de conversa foram também as suas perspetivas, bem como as medidas para o futuro de Castro Marim.

A Voz do Algarve: Como Presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, que impacto foi sentido no Concelho devido ao Covid-19?

Francisco Amaral: As pessoas estão com medo, estão apreensivas com aquilo que se tem passado e com as medidas que o Governo tomou e tem vindo a tomar. Os restaurantes, hotéis e empreendimentos turísticos encerraram e como é obvio o impacto económico é substancial, o que levou a que durante o confinamento, as empresas e a restauração sofressem muito. O impacto é muito negativo, isto durante o isolamento e mesmo com o fim do confinamento, ainda existem muitas dificuldades. A fronteira esteve encerrada até há relativamente pouco tempo e existem comércios que só vivem do turismo espanhol, o que dificultou bastante a vida dos comerciantes. Estou convencido que este processo será lento e há ainda muitas incertezas em relação a este vírus.

VA: Quais foram as medidas tomadas para combater a pandemia no município? 

FA- No caso particular do Município de Castro Marim, tomamos várias medidas. A primeiríssima, que ainda a Direção Geral de Saúde desaconselhava ao uso de máscaras, e em parceria com uma costureira de Castro Marim, já estávamos a produzir milhares de máscaras solidárias, que demos à população. Tomamos outras medidas, por um lado, levámos os alimentos à população mais idosa, por outro lado, criámos um vale de alimentação e higiene com determinados montantes para serem gastos no comércio local, com o objetivo de apoiar as famílias que foram lesadas com a pandemia.

VA: Este ano não irá haver Feira Medieval, como reagiram os munícipes e quais as repercussões dessa decisão, tanto a nível cultural como económico?

FA- Não realizámos o Festival do Caracol e os Arraiais de São João, portanto, isso é não só uma política de Castro Marim como de todo o Algarve e dos municípios algarvios, ou seja, este ano não houve, nem irá haver festivais ou comemorações. Assim, tudo aquilo que movimentasse aglomeração de pessoas, os municípios acordaram não proporcionar esses eventos aos seus munícipes. Claro que isto gera repercussões na economia da terra, mas todos compreendem que é a melhor decisão a tomar. A situação sanitária/pandémica é mais importante que a situação económica que estamos a viver.

VA: Que iniciativas é que a Câmara Municipal está a pensar organizar no verão 2020?

FA- Já tomamos várias medidas, embora tudo o que não implicasse aglomerações de pessoas, como já disse anteriormente. Fomos o primeiro município do país que colocámos câmaras nas praias, para que as pessoas pudessem escolher o melhor local para apanhar sol e tomar os seus banhos. Assim, podem verificar nos seus telemóveis em tempo real, o areal com menos pessoas. Para além disso, já fizemos espetáculos, mas só foram transmitidos na Internet, no Facebook, é impensável organizarmos eventos de outro modo. Em princípio irá haver um acordo com os músicos locais, os restaurantes e a Câmara Municipal para haver música ambiente nos almoços e jantares. Contudo, ainda estamos a agilizar, visto que tudo o que está ligado à cultura, está a receber um abate significativo.

VA: Que outras medidas tomaram, relativamente às praias, nesta época balnear?

FA- As medidas são as medidas que todos os municípios praticam e praticaram, seguindo as orientações da Direção Geral de Saúde e do Ministério do Ambiente. São elas, as bandeiras verdes e vermelhas, bem como os placares informativos a promover o uso de máscaras e o distanciamento social.  Basicamente são todas as medidas às quais já estamos habituados. Para além disso, claro, as câmaras nas praias, como já tinha falado anteriormente. 

VA: No Passado dia 1 de julho celebrou-se a reabertura da fronteira luso-espanhola na Ponte Internacional do Guadiana, como foram estes três meses e meio com as fronteiras fechadas e quais os pontos negativos dessa situação?

FA- Claro que o comércio local e a restauração sofreram imenso, isto porque estamos a falar da região algarvia que vive bastante do turismo espanhol. Acho que houve um certo exagero ao fecharem as fronteiras todo este tempo. O Algarve não foi muito afetado com este vírus e por isso acho que não se justifica o encerramento durante três meses da fronteira. Por exemplo, qualquer pessoa entra no aeroporto de Lisboa ou no aeroporto de Faro sem qualquer controlo, isto porque a medição da temperatura, para mim, não tem um grande valor e isto preocupa-me muito, visto que os países que melhor controlaram a pandemia, foram os que examinaram a situação mais cedo e obrigaram ao uso de máscara atempadamente. Relativamente à abertura das fronteiras, havia uma certa ansiedade, tanto por parte dos espanhóis como por parte dos portugueses, porque de facto há uma troca intensa entre pessoas e mercadorias e durante mais de dois meses isso não aconteceu. Nesse sentido foi de bom grado que as entidades espanholas e portuguesas viram esta reabertura acontecer.

VA: Começou recentemente o projeto “Castro Marim (COM)Vida”, no que consiste?

FA- Este projeto é um projeto ligado à solidariedade social e ligado aos nossos idosos, para lhes garantir algum apoio, visto que estão muito sós, carentes e isolados. É algo direcionado mais para os idosos e para crianças desfavorecidas. A este município toca-nos muito as faixas etárias fragilizadas e como tal queremos dar um apoio mais substancial e direto, não só apoio material como também psicológico.

VA: Durante a pandemia criaram uma linha de apoio psicológico, em que consiste?

FA- Nós temos quatro psicólogos que estão a trabalhar para a Câmara Municipal, as pessoas que tivessem problemas, ligavam para esses números e eram ouvidas e aconselhadas por profissionais. Funcionava bastante bem, apesar do medo que se encontra instalado atualmente.

VA: Quer deixar mais algumas palavras aos seus munícipes?

FA- Eu gostaria de deixar uma mensagem de esperança e que continuem a seguir as orientações da Direção Geral de Saúde. Gostaria ainda de acrescentar que temos um excelente Delegado de Saúde e que este tem desenvolvido um papel importante em Castro Marim. Somos dos Concelhos menos afetados, talvez exatamente por esse trabalho que tem sido desenvolvido ao longo do tempo. A mensagem é um apelo à população, para que esta se mantenha como tem estado até agora, que se proteja, e que seja sensível às campanhas desenvolvidas pelo Município para estes fatores como o distanciamento, uso de máscara e a higienização.

 

Por: Carolina Figueiras