A Câmara Municipal de Loulé quer proteger os ecossistemas e o património ambiental e natural do seu território para preservar a biodiversidade aí existente e, nesse sentido, foi aprovada hoje por unanimidade, em sessão camarária, a proposta de intenção de criação da Reserva Natural Local da Foz do Almargem e do Trafal.

Esta é mais uma matéria em que Loulé “está sintonizado com as grandes preocupações do mundo”, perspetivando-se, a partir deste território do sul de Portugal, uma colaboração para o alargamento das áreas protegidas reconhecidas pela UNESCO. “Agimos local, mas pensamos global e, como tal, queremos dar o nosso contributo para que, até 2030, possamos ter no Planeta cerca de 30% da sua área com qualquer tipo de estatuto de proteção”, observou o presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo. Refira-se que atualmente, apenas 6% da superfície do Globo detém algum estatuto de proteção, de acordo com os critérios definidos pela UNESCO, sejam lugares Património da Humanidade (cerca de 252), Reservas da Biosfera (714) ou Geoparques Mundiais (161).

A área proposta a ser classificada localiza-se na freguesia de Quarteira, no limite sudeste da faixa litoral, abrangendo cerca de 135 hectares. A zona é atravessada por duas ribeiras, a ribeira da Fonte Santa ou do Almargem e a ribeira do Carcavai, e constitui uma das importantes zonas húmidas do Algarve.

Trata-se de uma área “extremamente rica em vida selvagem, nomeadamente em espécies com estatutos de proteção elevados”, de acordo com o estudo realizado pela Almargem, em 2019, sobre a valorização das zonas húmidas da região e que constitui a base para esta proposta. A Foz do Almargem e Trafal alberga, pelo menos, 214 espécies de flora autóctone, 9 habitats naturais, 235 espécies de fauna, 137 espécies de avifauna, das quais 26 estão ameaçadas e 94 espécies diferentes de insetos.

O Município pretende, assim, assumir uma gestão integrada e transversal desta área, privilegiando a proteção e valorização dos recursos e dos sistemas naturais, salvaguardando a biodiversidade do local bem como a preservação dos valores paisagísticos, culturais e sociais. “As condições de habitabilidade do ser humano passam pela preservação das condições do meio ambiente e a nossa primeira responsabilidade é a transmissão da vida e do vivo às próximas gerações”, acrescenta o autarca louletano.

Localizada numa zona bastante apetecível do ponto de vista urbanístico, a futura Reserva pretende constituir-se igualmente como um travão ao que poderia vir a ser o crescimento imobiliário desregrado, pondo em causa ecossistemas sensíveis, em particular as ribeiras do Almargem e do Carcavai e respetivas lagoas, cujas áreas de terra são inundadas com água, sazonal ou permanentemente, e que funcionam como barreiras contra catástrofes naturais, ajudando a minimizar significativamente os impactos das alterações climáticas.

Recorde-se que, em 2019, esta área foi já alvo de medidas preventivas e a subsequente suspensão da eficácia do Plano Diretor Municipal de Loulé (PDM), iniciativas prorrogadas no passado mês de janeiro por mais um ano.

Com a criação desta Reserva, a Autarquia pretende levar a cabo uma série de iniciativas como a promoção de práticas educativas e científicas que conduzam a uma maior literacia ambiental e cultura científica, incentivando a participação ativa das comunidades, promoção do usufruto sustentável do território ao nível turístico, desportivo e de lazer, ações de restabelecimento, estabilização e proteção do sistema dunar ou a substituição gradual de espécies invasoras, exóticas ou infestantes por espécies autóctones, entre outras.

A Câmara de Loulé irá agora trabalhar no regulamento para a gestão desta Reserva Local, seguindo-se uma fase de consulta pública e apreciação e parecer por parte das entidades e aprovação final da Assembleia Municipal. Este processo levará cerca de 9 meses.