Importância dos «Centros de Dados» na economia portuguesa

14:00 - 21/11/2025 OPINIÃO
André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.comAndré Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Num mundo cada vez mais digital, os centros de dados (Data Centers) assumem um papel central na transformação tecnológica e económica dos países. Portugal, graças à sua localização privilegiada e à crescente rede de cabos submarinos, está a posicionar-se como um dos principais hubs de interconexão global, atraindo investimentos estratégicos e consolidando-se como uma referência europeia na infraestrutura digital. O investimento que se perspetiva em Sines, envolvendo a Nvidia (a empresa com maior valorização bolsista no mundo atual) num consórcio promovido pelo Banco de Fomento, na construção de uma gigafábrica de inteligência artificial, com cerca de 100 mil chips avançados, é reflexo desta atratividade. Na verdade, os centros de dados são a espinha dorsal da era digital: armazenam, processam e distribuem os volumes massivos de informação gerados por aplicações, empresas e utilizadores em todo o mundo. Com o avanço da inteligência artificial (IA), esta infraestrutura tornou-se ainda mais crítica. Modelos de IA exigem poder computacional elevado, processamento em tempo real e segurança robusta — requisitos que só centros de dados modernos conseguem garantir. Além disso, os próprios centros de dados estão a adotar IA para otimizar o consumo energético, prever falhas e gerir cargas de trabalho, tornando-se mais eficientes e sustentáveis. A tendência global aponta para o crescimento de estruturas distribuídas, como o edge computing, que aproxima os dados dos utilizadores, reduzindo a latência e melhorando a performance de serviços digitais.

Portugal como Hub de Interconexão Global

A posição geográfica de Portugal, na extremidade ocidental da Europa, confere-lhe uma vantagem estratégica na amarração de cabos submarinos que ligam continentes. Atualmente, o país conta com 15 cabos de telecomunicações submarinos, com mais em desenvolvimento, que atravessam a sua Zona Económica Exclusiva. Estes cabos são responsáveis por transportar mais de 90% da internet mundial, e Portugal detém cerca de 20% dos mais influentes no Atlântico. Este nível de conectividade internacional transforma Portugal numa verdadeira porta digital da Europa, com potencial para competir com centros históricos de interligação como Frankfurt ou Londres. A Agenda Digital 2030 da União Europeia, que visa “um gigabit para todos e 5G em todas as zonas povoadas”, reforça ainda mais o papel do país como ponto de entrada digital para o continente.

Impacto Económico e Estratégico para Portugal

A infraestrutura de centros de dados está a atrair investimentos massivos. Estima-se que Portugal possa captar cerca de 10 mil milhões de euros até 2030, com 5,8 mil milhões já em execução ou planeados. Projetos emblemáticos como o Start Campus em Sines, com energia 100% renovável, o AtlasEdge em Oeiras e a expansão da Meo (Altice) em Linda-a-Velha e no Porto, são exemplos claros da aposta nacional neste setor. O impacto económico é expressivo: prevê-se que o contributo para o PIB nacional suba de 160 milhões para 3,7 mil milhões de euros até 2031, com a criação de mais de 9.400 postos de trabalho. A estabilidade política relativa e o compromisso com a energia verde tornam Portugal especialmente atrativo para operações de dados de grande escala, reforçando a sua competitividade na corrida tecnológica global. Em síntese, os centros de dados não são apenas infraestruturas técnicas — são motores de inovação, crescimento económico e soberania digital. Portugal está, aparentemente, a aproveitar esta oportunidade com visão estratégica, posicionando-se como um protagonista na nova economia digital europeia.