Entrevista | Diana Pereira - Fundadora da Associação «The Pineapple Mind»

13:17 - 15/07/2020 ENTREVISTAS
Diana Pereira, criadora da Associação «The Pineapple Mind» fala-nos sobre a importância da saúde mental deixando como mote o Slogan do seu projeto: «Precisas de ombro amigo? Precisas de desabafar e sentir que não estás sozinho?»

A Voz do Algarve: Como surgiu este projeto? Como fundadora do mesmo conte-nos um pouco da história da criação do “The Pineapple Mind”.

Diana Pereira: O projeto The Pineapple Mind surgiu em março de 2019. Sou estudante do 5º ano de medicina e tive uma depressão em 2017, que me levou a congelar a matrícula e ficar um ano sem estudar, a recuperar. Nesse período, dei-me conta que existia pouca informação sobre Saúde Mental em português de Portugal online. No que toca a testemunhos, por exemplo, só encontrava em inglês. Quando recuperei e voltei à faculdade, no ano seguinte, tive a cadeira de neurociências e saúde mental (que abrange neurologia e psiquiatria) no primeiro semestre. Fiquei apaixonada pelas temáticas e decidi, depois de ter conhecimento teórico sobre as diversas patologias, que podia combiná-lo com o que fui aprendendo ao longo da minha recuperação e sensibilizar para a saúde mental com informação fidedigna e credível, na visão de quem já passou por uma e também na visão de futura profissional de saúde com formação na área. Depois de sensivelmente um ano a trabalhar nas redes sociais, comecei a dar palestras, lancei um site e juntei mais jovens apaixonados pela temática, formando uma Associação juvenil sem fins lucrativos. Neste momento estamos a organizar o nosso material de trabalho para começarmos as atividades presenciais em setembro, se a situação pandémica assim o permitir.

 

VA: Em que consiste e qual é o vosso lema?

DP: O nosso lema é sensibilizar para a importância da saúde mental, disponibilizando informação credível e erradicar o estigma associado às doenças psiquiátricas.

Com o projeto The Pineapple Friends estimulamos o peer suport e não sendo um apoio profissional, é algo que pode ajudar quem sofre a sentir-se mais compreendido e lidar melhor com a doença ou fase má que está a passar. Não ter medo de pedir ajuda é essencial para começar a ultrapassar o problema.

 

VA: Quantas pessoas apoiam e quantos voluntários ajudam no projeto? De que zonas do país e de que cursos?

DP: Somos 29 jovens membros da Associação, de todo o país e de diferentes cursos (ainda maioritariamente ligados à psicologia e medicina). Contamos ainda com mais de 50 voluntários do The Pineapple Friends, um projeto que lançamos na quarentena de peer support/voluntariado para a saúde mental. Apoiamos cerca de 70 pessoas. Também os voluntários são de várias zonas do país, na sua maioria estudantes ou jovens adultos em início de vida.

VA: Como funciona o vosso trabalho e como chegam até vós os pedidos de ajuda?

DP: Na Associação focamos em temas semanais, lançando vários conteúdos para as nossas redes sociais e site. Também organizamos algumas semanas temáticas mais trabalhadas, nas quais fazemos diretos com oradores, lançamos vídeos e conteúdos mais extensos e já organizamos também um debate com elementos de juventudes partidárias. No projeto The Pineapple Friends, os pedidos de ajuda chegam através das redes sociais e depois direcionamos para os voluntários. A comunicação do projeto faz-se através de entrevistas à comunicação social ou boca a boca e através de partilhas nas redes sociais. Acabei também por partilhar o projeto quando me convidaram para ir à televisão (a Tarde é Sua e Você na Tv) ou entrevistas em podcasts (Maluco Beleza, o Pátio, Three on the road...).

VA: Com que tipo de problemas estão familiarizados?

DP: A maioria das pessoas que nos procuram têm sintomas depressivos, sintomas de ansiedade ou obsessões/compulsões. Algumas já são acompanhadas profissionalmente e precisam apenas de mais um ombro amigo para desabafar, outras não têm qualquer tipo de apoio e sentem-se perdidas, de maneira que tentamos sempre informar as pessoas para as opções que têm para pedir ajuda profissional, para além do nosso apoio. Durante a quarentena também tivemos muita gente a pedir ajuda simplesmente porque se sentiam sozinhos.

VA: Que objetivos e metas querem atingir no futuro?

DP: Queremos continuar a exercer a nossa atividade de sensibilização online mas apostar essencialmente nas palestras presenciais, dirigidas a públicos variados, desmistificando a saúde mental desde a infância até aos idosos. Queremos que as nossas palestras mudem a visão das pessoas para que compreendam melhor a importância de preservarmos a nossa saúde mental e não condenarmos quem não está bem, diminuindo o estigma associado. Paralelamente, o nosso grande objetivo também é tornar-nos uma ONG, canalizando fundos para pagar consultas de psicologia a quem não tem possibilidades económicas e intervindo politicamente na área da Saúde Mental.

VA: Com toda a situação do coronavírus sentiram que as pessoas precisaram mais da vossa colaboração nas suas vidas? Como se organizaram?

DP: Sim, daí a criação do projeto The Pineapple Friends, logo no início da quarentena, quando ainda trabalhava sozinha no projeto. Senti que a saúde mental das pessoas ia ser fortemente afetada com a pandemia e quis apresentar uma possível resposta imediata, em detrimento de apenas estudar o impacto da mesma. Depois tive a sorte de contar com imensos seguidores do projeto interessados que prontamente se predispuseram a ajudar. A grande maioria dos voluntários iniciais também se tornaram, entretanto, membros da Associação recém-formada. Colocamos cartazes do projeto de voluntariado em várias farmácias no Porto, Lisboa e Faro, quando ainda estava tudo fechado, para podermos chegar a mais gente.

VA: Em que plataformas digitais têm apostado e como gerem as redes sociais?

DP: Começamos no Instagram, expandimos para o Facebook e Twitter e em março lançamos o site. Gerimos essencialmente publicando conteúdos apelativos, com informação fidedigna e credível. Respondemos a dezenas de mensagens e pedidos de ajuda diariamente e temos um elemento responsável por cada rede social que faz esse trabalho.

VA: O que significa o vosso símbolo (ananás) e porquê a escolha do nome “The Pineapple Mind”?

DP: O ananás é um dos frutos mais ricos em triptofano, um percursor da serotonina. A serotonina é o neuroquímico cuja desregulação está provada estar envolvida em muitos casos de depressão. Muitos antidepressivos, fármacos usados para tratar a depressão, baseiam-se na inibição da recaptação desta substância. Ou seja, o ananás acaba por ser um antidepressivo natural. E assim sendo, a mente do ananás (The Pineapple Mind) é a metáfora da mente rica em serotonina e por isso mesmo, a mente estável, forte e resiliente que queremos desenvolver.

VA: Que mensagem gostaria de deixar a futuros voluntários e a pessoas que estão a ler esta entrevista e precisam de ajuda?

DP: O projeto prima pela partilha de informação que pode ajudar quem sofre e não sabe que tem uma doença/tem medo de pedir ajuda. Trabalhamos para informar, sensibilizar e acima de tudo mostrar às pessoas que as doenças mentais existem e estão cientificamente validadas. Negá-las é como negar doenças do coração, do fígado ou quaisquer outras.

Com o projeto The Pineapple Friends estimulamos o peer suport e não sendo um apoio profissional, é algo que pode ajudar quem sofre a sentir-se mais compreendido e lidar melhor com a doença ou fase má que está a passar. Não ter medo de pedir ajuda é essencial para começar a ultrapassar o problema.

 

Por: Carolina Figueiras