Os antigos trabalhadores da cadeia de supermercados algarvia Alicoop vão pedir à procuradora-geral da República (PGR), Lucília Gago, uma investigação à insolvência da Nogueira e Filhos (NF) para determinar se houve atuação dolosa, disse hoje fonte sindical.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), Isabel Camarinha, participou na quinta-feira à noite na reunião dos antigos trabalhadores da Alicoop, realizada na Câmara de Silves, onde foram decididas novas formas de procedimento face à recente exigência do Banco BIC.

Aquela instituição bancária quer que os ex-funcionários paguem uma dívida de um crédito que a NF teria assumido quando adquiriu a Alicoop, após a insolvência desta.

Em fevereiro de 2008, 245 trabalhadores do Grupo Alicoop, que integrava os supermercados Alisuper, Macral e Geneco, contraíram empréstimos junto do BPN - adquirido em 2012 pelo banco BIC -no valor de 1,7 milhões de euros, numa forma concertada com a administração da Alicoop para financiar a empresa, assumindo esta perante os trabalhadores o compromisso de pagar as prestações dos empréstimos.

O Grupo Alicoop cumpriu com os pagamentos até entrar em processo de insolvência.

De acordo com o CESP, 221 pessoas estão a ser confrontadas com penhoras do banco BIC para pagarem empréstimos efetuados em 2008 para financiar a tesouraria da empresa, depois de o tribunal de Silves os ter desonerado das responsabilidades no processo de insolvência da empresa, em 2012.

Quando adquiriu a Alicoop, a NF ficou com as lojas e assumiu o pagamento dos 1,7 milhões de euros do crédito contraído em 2008.

Contudo, a NF não cumpriu esse acordo, pelo que o BIC voltou a exigir aos trabalhadores o pagamento desse crédito e avançou mesmo com 12 execuções, que entretanto deu instruções para paralisar enquanto a justiça não se pronunciar num processo de aclaramento que a entidade bancária apresentou “para saber se pode reclamar os créditos que a NF não pagou”, esclareceu a mesma fonte.

“[Os ex-trabalhadores da Alicoop] Decidiram um conjunto de ações que vão realizar, nomeadamente entregar uma exposição subscrita por todos eles à senhora PGR para que faça uma investigação ou determine que o Ministério Público faça uma investigação relativamente à insolvência da NF, da Nogueira e Filhos, que foi a empresa que ficou depois da insolvência da Alicoop”, afirmou Isabel Camarinha à agência Lusa.

A dirigente sindical quer que o Ministério Público (MP) “verifique se houve insolvência dolosa”, porque “tudo indica que foram desviados cerca de 6,5 milhões de euros da massa insolvente e esses valores deveriam ter sido para pagar os créditos aos trabalhadores”, disse.

Os representantes dos trabalhadores querem também falar com todos os grupos parlamentares para que também eles exijam uma investigação e, no âmbito da sua participação “como representantes na comissão de credores, averiguar qual é o ponto de situação de todo este processo relativamente à insolvência da NF”.

O objetivo principal é, frisou, “clarificar de uma vez por todos que os trabalhadores não devem nada ao Banco BIC” e que “quando foi aprovada a insolvência pelo tribunal ficou lá escrito, bem clarinho, que aquela dívida não era dos trabalhadores e que os trabalhadores não podiam ser onerados nem por dívidas passadas, presentes ou futuras relativamente àquela matéria”.

A mesma fonte lembrou que houve um acordo entre o BIC e a NF que determinava a forma de pagamento da dívida e os trabalhadores vão também insistir junto do Banco de Portugal para que exerça o papel de supervisão, os receba em audiência e os retire da lista negra por incumprimento de crédito.

O sindicato vai também constituir-se como assistente no processo de aclaramento que o banco vai interpor na justiça para saber se os trabalhadores podem ser responsabilizados pela dívida.

 

Por: Lusa