Grupo Aveleda investe no Algarve, que ultrapassa as 4 dezenas de produtores registados

O que fez a Aveleda investir na Região Vitivinícola do Algarve? Alguma ligação pessoal/sentimental ou familiar ou simplesmente uma oportunidade de negócio?

R: Até à cerca de um ano atrás nem eu nem a maioria dos diretores da Aveleda tinha provado algum vinho do Algarve. Foi através de um amigo comum que conhecemos o Filipe Vasconcelos, do Morgado do Quintão, que foi o “culpado” por ficarmos com a conhecer a região.

Os vinhos foram uma agradável surpresa e percebemos que a região já está a fazer vinhos de grande qualidade. Ficámos imediatamente com curiosidade para perceber o porquê, os solos, o clima, as castas... percebemos que tem o potencial para vir a ser uma grande região de vinhos e temos vontade de fazer parte desse caminho. Por isso decidimos investir.

 

O que considera que a região tem para oferecer ao Grupo Aveleda, que esta ainda não tenha já, e quais os seus objetivos mais a curto médio prazo para o projeto algarvio?

R: Pensamos que pode trazer ao nosso portefólio um conjunto de vinhos diferentes e complementares dos que já fazemos nos Vinhos Verdes, no Douro e na Bairrada. Mas sobretudo sentimos que há um enorme potencial no próprio mercado algarvio, sobretudo no canal HORECA, que valoriza os vinhos da região, mas onde a larga maioria do consumo ainda é de outras regiões.

Estamos certos que isso vai mudar e cada vez vai ser mais natural para quem visita o Algarve, beber vinhos locais. Por isso o nosso primeiro objetivo é a presença nos canais de venda da região, com um posicionamento muito qualitativo.

 

E a longo prazo, tem já alguma definição de onde quer estar? Qual seria o sonho para o grupo na região?

R: A nossa ambição é grande. Porque sentimos que a região pode ir longe, que fez nos últimos 15 anos um trajeto qualitativo muito importante, mas que ainda não foi totalmente divulgado.

Acreditamos que os vinhos do Algarve têm de ser o vinho de referência na região, mas também fora dela. Ainda não começámos a comercializar e já temos pedidos, dos EUA, do Canadá....o nome Algarve é muito conhecido e gera muito interesse.

O outro sonho é o enoturismo. A região precisa de diversificar a oferta para além da praia e do golfe, o enoturismo faz todo o sentido. E a nossa leitura é que essa procura não é só no verão, mas sim ao logo de todo o ano. Por isso vamos fazer um investimento importante no enoturismo.

 

De uma forma sintética em que consistiu o negócio? Começam já com algum avanço ao comprar uma das propriedades pioneiras da fase de renascimento da região. Porquê esta Quinta? Quais eram os requisitos que procurava nesta aquisição e que encontrou nesta propriedade? Quais as condicionantes deste negócio?

R: Visitámos várias propriedades no Algarve e a Quinta do Morgado da Torre tinha condições perfeitas: está na zona de influência da Serra de Monchique, significando que tem um clima mediterrânico ameno; excelentes solos argilo-calcários; parte da quinta é plana (excelente para castas brancas) e parte em encosta (excelente para castas tintas). Além disto, a localização, em Alvor, tem ótimos acessos, para potenciar o enoturismo. Assim, comprámos parte dos ativos da Quinta do Morgado da Torre, e alugámos outros, ficando todos esses ativos dentro da Aveleda S.A..

Muito importante foi a continuidade da exploração das marcas (sobretudo Alvor) e do negócio, iniciado em 1998 pelo João O’Neill Mendes, que teve um papel fundamental na elevação da qualidade dos vinhos do Algarve, tendo os seus vinhos já um grande prestígio e reconhecimento.

 

O Grupo Aveleda é conhecido como uma marca forte e de prestígio, porém a aposta é sempre em vinhos acessíveis e com boa relação qualidade/preço. Essa aposta é também para ser feita na região? Não sentem a falta de um vinho dito de prestígio (gama alta entenda-se) no vosso portfólio? Acham que poderia sair do Algarve esse vinho?

R: O grupo Aveleda tem feito um percurso claro de reforço da sua gama Premium, com a aquisição da Quinta Vale D. Maria do Douro em 2017, mas também com o desenvolvimento orgânico das suas marcas. Nos Vinhos Verdes em 5 anos estamos a triplicar a área de vinha própria com vista ao reforço da gama premium da marca Aveleda. A prestigiada aguardente Adega Velha tem sido alargada. Por isso, o investimento numa gama premium do Algarve faz todo o sentido.

Achamos que o nome da região tem de ser construído com vinhos de topo e de prestígio porque isso é bom para as marcas e porque há procura no mercado para esse segmento.

 

A Aveleda é uma empresa habituada a liderar e na Região dos Vinhos Verdes é a empresa que mais produz e exporta nesta região. Devem os restantes produtores algarvios temer esta nova concorrência?

R: Nunca nenhuma região do mundo se fez só com um produtor. É preciso diversidade. Mas as empresas maiores, pelos recursos que têm, têm obrigação de ser a locomotiva que abre caminho. Fizemos esse papel nos Vinhos Verdes, como o Esporão fez no Alentejo, a Sogrape nos rosés e no Douro DOC, a JMF em Setúbal, a Dão Sul no Dão ou a Casa Santos Lima em Lisboa. E as restantes empresas só têm a ganhar em ter portas abertas nos mercados internacionais, como se comprovou em todas estas regiões.

Queremos de alguma forma participar na divulgação e crescimento do Algarve porque acreditamos na região. É um processo que vai demorar, mas estamos cá para o longo prazo.   

 

Na sua opinião o que acha que falta à região para se afirmar em termos nacionais? Poderá a Aveleda ajudar a colmatar essas lacunas?

R: Percebemos que a região precisava de ganhar consistência nos seus vinhos, mas já está a fazer esse caminho. Agora precisa de investimento na vinha e na comunicação, e aí podemos ter um papel a desempenhar.

Vai ser preciso algum tempo para perceber melhor o caminho a seguir. À partida, tem todas as condições naturais para se tornar uma referência internacional em rosés de qualidade, mas precisamos de ver se se confirma essa possibilidade.

 

 

Por: Vico Reis Ughetto - Assessoria de Comunicação CVA