O incumprimento de um prazo legal levou à caducidade do procedimento que pretendia classificar a Fábrica do Inglês, em Silves, como Monumento de Interesse Público (MIP), disse ontem a presidente da associação que apresentou a proposta.

O anúncio da caducidade do procedimento de classificação como MIP da Fábrica do Inglês, incluindo os jardins e o património móvel integrado, em Silves, no distrito de Faro, foi publicado na sexta-feira em Diário da República pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), mas sem esclarecer os motivos que estiveram na base da decisão.

A agência Lusa tentou desde sexta-feira obter esclarecimentos sobre a matéria da DGPC e da Câmara de Silves, mas sem sucesso, e hoje a presidente da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI), Leonor Medeiros, disse que foram incumpridos prazos por dificuldades de recursos dentro da direção-geral e houve uma contestação que levou à caducidade anunciada na sexta-feira e assinada pela diretora-geral do Património Cultural, Paula Araújo da Silva.

“Mas já voltámos a apresentar uma nova proposta de classificação desse património”, frisou à Lusa a presidente da APAI, que tem trabalhado com a Câmara de Silves para conseguir a classificação como MIP da Fábrica do Inglês, espaço que incluía o Museu da Cortiça e o seu acervo móvel, permitindo a preservação desse património e criação de uma zona geral de proteção de 50 metros em redor.

Construída sobre uma antiga fábrica de cortiça, a Fábrica do Inglês, complexo de animação turística fundado em 1999, albergava o Museu da Cortiça e espaços de restauração e espetáculos, mas faliu em 2010 devido às dificuldades financeiras do seu então proprietário, o grupo Alicoop, ficando depois ao abandono e sendo alvo de furtos.

A 30 de maio de 2014, o espólio do museu e o edifício foram a leilão público, no qual a Câmara de Silves participou, sem ter conseguido a aquisição do espólio, que acabou por ser adquirido pelo Grupo Nogueira por 36 mil euros, enquanto os edifícios desativados da Fábrica do Inglês foram adquiridos pela Caixa Geral de Depósitos por 2,2 milhões de euros.

No museu havia máquinas únicas no mundo e outros equipamentos que remontam ao período em que Silves era a capital nacional da indústria corticeira e que a presidente da APAI considera ser “fundamental” preservar para evitar a sua desagregação.

“Sentimos que tinha passado uma série de tempo e a classificação não estava a avançar, estávamos a ficar preocupados porque é fundamental proteger a Fabrica do Inglês, porque não é só o edifício e o que representa para a história, mas é também o museu e o património móvel que acabou por ficar fragmentado e a sua salvaguarda fragilizada com esse processo de aquisição por vários elementos”, afirmou Leonor Medeiros.

A mesma fonte disse que pediu então uma reunião à DGPC e, nesse encontro, realizado em setembro, “a própria diretora pediu desculpa pela demora no processo, porque de facto houve uma série de prazos dentro do procedimento de classificação que tinham sido ultrapassados”, contou a presidente da APAI.

“Pediram-nos muita desculpa, porque a DGPC, como a maior parte dos institutos públicos, está com falta de funcionários e não tem capacidade para realizar todos estes procedimentos e o trabalho de campo e tinha havido uma denúncia da passagem desses prazos, que é uma coisa que raramente acontece”, acrescentou.

Questionada sobre se tinham sido os novos proprietários a apresentar a denúncia do incumprimento dos prazos, a mesma fonte respondeu “creio que sim”, mas garantiu que “já foi apresentada uma nova proposta de classificação” e disse esperar que a DGPC possa desta vez concluir o processo para classificar esse património como MIP.

 

Por: Lusa