Bombeiro há 47 anos, Acácio regressa hoje de manhã ao local onde esteve a combater um incêndio no lugar do Corgo, em Silves, até às cinco da madrugada, e sublinha que a fase de vigilância e rescaldo é fundamental.

Naquela zona do concelho de Silves, no Algarve, são visíveis vastas áreas de mato ardidas, bem como alguns barracões e viaturas, que aparentemente já estavam abandonadas. No local, a agência Lusa encontra equipas de bombeiros de Loures, Sacavém e Alverca, do distrito de Lisboa.

“As operações de vigilância e rescaldo são fundamentais para garantir que não há reacendimentos e que isto não volta tudo a arder”, explica o bombeiro, de 62 anos.

O fumo que sai de uma ‘sucateira’ ali próxima chamou a atenção daquelas equipas, que se deparam agora com um problema: o local encontra-se fechado com um cadeado no portão.

Entra então 'em ação' um popular que por ali se encontrava, também proprietário de “uns terrenos e umas casas” próximos. Desdobra-se em telefonemas para conseguir o telemóvel do dono da ‘sucateira’.

“Tomo a responsabilidade e rebento com isto? Não quero que aconteça o que aconteceu ontem à noite, quando andei maluco atrás do fogo”, diz Mário Oliveira, de 60 anos, a quem está do outro lado, que depois revela ser “o fiscal da câmara”.

Conta que a noite foi “muito complicada” e que graças a um vizinho, que tinha um limpa-fossas, foi possível projetar “muita água para cima das casas”, impedindo que fossem consumidas pelas chamas.

“Tivemos sorte, tivemos muita sorte”, assume.

Acácio volta a falar com a equipa de reportagem da Lusa para explicar um dos principais problemas que as equipas de socorro encontraram naquele local durante a madrugada, cerca das 04:00 de hoje: uma botija de gás.

“Percebemos que havia ali uma botija porque as labaredas começaram a ficar verdes. Mandámos toda a gente sair dali, apontámos a água à botija e quando arrefeceu um colega foi lá retirá-la”, conta o bombeiro, que não tem descansado pouco mais de "duas a três horas" por dia.

Questionado sobre se tem conhecimento de habitações ou casas ardidas na zona, diz que só viu pequenos barracões ou sucateiras e carros que, aparentemente, já estavam abandonados.

Entretanto, os bombeiros acabam por entrar dentro do espaço, sem necessidade de rebentar o portão, já que uma das partes da vedação já se encontrava meio tombada. Removem o entulho e com água garantem que daquele local não há um novo foco de reacendimento.

A missão de Acácio e dos colegas ali está terminada. É hora de continuar a vigilância e o rescaldo, até porque não são os 47 anos de profissão que o fazem querer parar.

“E é para continuar”, assegura, sorridente.

O incêndio rural, que está a ser combatido por mais de mil operacionais, deflagrou na sexta-feira à tarde em Monchique, no distrito de Faro, e lavra também no concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Segundo um balanço feito hoje de manhã, há 36 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 299 pessoas estão deslocadas e distribuídas por centros de apoio, depois da evacuação de várias localidades.

Outras nove pessoas acamadas estão dispersas por unidades de saúde.

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram 23.478 hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

 

Por: Lusa