por Luís José Pinguinha | Vice-presidente do Louletano | FUTEBOL | Acompanhando as jovens promessas do Louletano

Aproveitando o atual período de férias das competições oficiais de futebol, esta coluna será hoje diferente do habitual. Não darei destaque a um dos jogadores do Louletano Desportos Clube mas, e sim, a Cristiano Ronaldo. Sabe-se que CR7 nunca jogou no Clube mais representativo do Concelho de Loulé, mas o que talvez muitos não sabem é que jogou em Loulé, em 2001, numa denominada “Taça Terra de Loulé”, disputada no escalão de Juniores.

E hoje, dezassete anos depois, divulgo uma história deliciosa (ou amarga, depende do ponto de vista) que envolveu Cristiano Ronaldo e o Louletano.

O Torneio, já o dissemos, jogou-se no escalão de Juniores e participaram o Sporting, o Benfica, os Peloteros (Espanha), o Córdoba (Espanha), o Quarteirense e, obviamente, o Louletano, clube organizador.

Cristiano Ronaldo, apesar de ter ainda idade de Juvenil, integrou a comitiva do Sporting. Ou seja, o evento era destinado a jogadores nascidos em 1983, mas CR7, nascido em 1985 foi convocado pelo Sporting.

 

 

Para além dos Prémios habituais (classificação por equipas, fair-play, melhor marcador, melhor guarda redes, melhor jogador) institui-se, também, o Prémio Melhor Jogador em Campo, o MVP (“Most Valuable Player”) em cada um dos jogos do Torneio.

Era um Prémio patrocinado pela Garvetur, do nosso bom amigo Reinaldo Teixeira, sempre disponível para apoiar o movimento associativo (é hoje o Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação de Futebol do Algarve), e consistia num “voucher” que dava acesso ao jogador em causa e mais três familiares passarem um fim-de-semana prolongado (2 noites) em Vilamoura. Único condicionalismo: o prémio era intransmissível. Semelhante era o Prémio de Melhor Jogador do Torneio, mas aí eram 5 as noites em causa.

O primeiro jogo que o Sporting disputou foi frente aos espanhóis dos Peloteros. Na qualidade de Vice-Presidente do Louletano (Chefe do Departamento de Futebol de Formação) exerci funções de Diretor Geral dessa “Taça Terra de Loulé”. Nesse contexto, solicitei ao insuspeito Prof. Eduardo Iria que escolhesse o MVP desse jogo. Mal o jogo terminou, disse-me: “O melhor jogador foi, sem dúvida, o puto Juvenil do Sporting, o Cristiano Ronaldo. É mesmo muito bom”. Consequentemente foi anunciado o vencedor do Prémio e eu próprio o entreguei. É então que o Senhor Ferrão, delegado do Sporting que chefiava a comitiva deste clube, diz-me o seguinte: “Senhor Pinguinha …” (tratava-me assim) “…olhe, o puto dos Juvenis é pobre, os pais estão na Madeira, ele não vai beneficiar do prémio, já que o prémio é intransmissível, é melhor entregar a outro jogador”. Ainda resisti, argumentei que era injusto, se o miúdo merecia o prémio tinha que o receber, mas acabei a alinhar com a posição do Senhor Ferrão que culminou com o argumento que ele ganhava quase todos os prémios de Melhor Jogador nos Torneio e que mais um menos um não faria diferença. E desta forma haveria um jogador que beneficiaria do Prémio.

E foi assim que Cristiano Ronaldo deixou de ser hipótese para vencer outro MVP nos jogos seguintes e para ser o MVP do Torneio.

Hoje em dia, conhecendo o Cristiano como o conhecemos, ávido de conquistas, reconheço que foi uma injustiça. Daí este pedido de desculpa.

Ainda na sequência deste Torneio: dez anos depois, estava eu com uma equipa do Louletano num Torneio em Estepa (Espanha), já CR7 encantava o mundo com as cores do Real Madrid, quando oiço chamar pelo meu nome. Olho e deparo como um homem sentado a uma esplanada acompanhado de 4 ou 5 amigos que olhavam para ele com ar de gozo e falavam em tom jocoso. Dirigi-me ao grupo e reconheci um ex-jogador dos Peloteros, que tinha jogado várias vezes com o Louletano em Torneios diversos. Pediu-me então que confirmasse o que estava a contar aos colegas: tinha jogado contra o CR7 em Loulé, o defesa esquerdo da sua equipa levou grande baile e ele, que era defesa central, foi várias vezes dobrar esse mesmo defesa e conseguiu ganhar algumas bolas ao Cristiano. “Foram poucas, mas ganhei algumas” afirmou com notória vaidade. Confirmei a situação e, imediatamente, o rosto dos colegas sofreu brutal alteração e o tom jocoso deu aso a uma indisfarçável admiração, com inveja á mistura.

Tenho a certeza que o homem em causa (nesta altura já com 28 anos), graças a este episódio, subiu uns degraus valentes, na hierarquia social do seu “Pueblo”.

É o efeito Cristiano Ronaldo. O maior embaixador de Portugal de todos os tempos. Uma das quatro maiores lendas de sempre do futebol, a par de Maradona, Messi e Pelé (ordem alfabética).

Enfim, como diria Luís de Camões, “um dos que da lei da morte se vão libertando”. Obrigado por tudo, Cristiano.