Os blocos operatórios dos hospitais de Faro e Portimão estão paralisados devido à greve dos médicos, estando apenas assegurados os serviços mínimos, que cobrem as cirurgias de urgência ou oncológicas, disse à Lusa fonte sindical.

Segundo João Pinto, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), das seis salas do bloco operatório do Hospital de Faro "nenhuma está a funcionar", o que obrigou ao cancelamento de todas as cirurgias programadas, situação que se verifica também nas duas salas operatórias do Hospital de Portimão.

De acordo com o médico, a situação é transversal a todas as especialidades e, embora as reivindicações sejam comuns aos clínicos de todo país, as condições de trabalho são "mais precárias" no Algarve "devido ao quadro médico enfraquecido", uma vez que devia haver o triplo dos médicos.

"Temos apenas um terço do quadro dos médicos que era suposto", lamenta João Pinto, sublinhando que existe falta de incentivos para fixar médicos no Algarve, além do facto de os concursos para a colocação de médicos recém-especialistas demorarem muito tempo, o que também afasta os profissionais.

Em Vila Real de Santo António, o Serviço de Urgência Básica (SUB) também só está a atender as situações mais urgentes, garantindo serviços mínimos, enquanto nas duas Unidades de Saúde Familiares (USF) que operam na cidade apenas estava a trabalhar um dos cinco médicos que deveria estar de serviço no período da manhã, constatou a Lusa no local.

Tanto na USF Esteva como na USF Levante, que pertencem ao Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Sotavento, o cenário visível às 09:30 era de salas de espera sem utentes e funcionários administrativos e pessoal de enfermagem agrupados, com poucas pessoas ou sem ninguém para atender.

Na USF Esteva, estava previsto haver hoje três médicos de serviço durante a manhã, mas apenas um compareceu ao serviço, enquanto na USF Levante não estavam a ser realizadas consultas, porque os dois médicos que deveriam estar a trabalhar aderiram à paralisação.

Um dos utentes afetados foi João Santos, que disse à Lusa ter-se deslocado a uma das UFS de Vila Real de Santo António para uma consulta que estava "marcada já há algum tempo", mas "não sabia que havia greve”.

"Não houve consulta, mas tinha também que pedir medicamentos e acabei por fazer esse pedido, embora a senhora do balcão me tenha dito que não sabia quando me iriam passar a receita, porque a greve se prolonga por mais dias", disse.

Os médicos iniciaram hoje às 00:00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela “defesa do Serviço Nacional de Saúde”.

A reivindicação essencial para esta greve de três dias é “a defesa do SNS” e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação – o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.

Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma.

Para hoje à tarde, a FNAM agendou ainda uma concentração em frente do Ministério da Saúde, em Lisboa.

A paralisação nacional de três dias, que termina às 24:00 de quinta-feira, deve afetar sobretudo consultas e cirurgias programadas, estando contudo garantidos serviços mínimos, como as urgências, tratamentos de quimioterapia, radioterapia, transplante, diálise, imuno-hemoterapia, cuidados paliativos em internamento.

 

Por: Lusa