«A igreja matriz de Portimão comemora 550 anos de história graças à fé do seu povo e à vontade de Deus», assegurou no domingo o investigador portimonense, autor do livro sobre aquele templo edificado em 1467.

Nuno Campos Inácio explicou na apresentação da publicação, que decorreu na própria igreja monografada que, “há 550 anos um grupo de portimonenses anónimos que a história não registou solicitou ao então bispo do Algarve autorização para a construção da sua igreja”. “É o princípio da nossa história”, destacou, assegurando que “não foi pela vontade de um homem ou de uma família” que a igreja foi edificada, mas “pela fé de um povo”, embora sem rejeitar que possa ter havido “uma participação da família Castelo Branco, senhores e depois donos de Vila Nova de Portimão”.

Campos Inácio observou serem as 22 gerações, que separam os primeiros obreiros daquela igreja daqueles que hoje a integram, as responsáveis pela sua preservação. “Foram essas 22 gerações concretas, uma a uma, que deram o seu contributo para que Portimão e, neste caso, a sua igreja, sejam o que são hoje. Foi a fé que uniu as gentes, geração após geração, fazendo-os proteger a sua igreja dos ataques dos corsos de pirataria turca e argelina do século XVI, dos ataques ingleses e holandeses do século XVII, das invasões francesas do início do século XIX, do anticlericalismo liberal, do fanatismo da nacionalização republicana e do movimento marxista do pós 25 de Abril”, sustentou.

Referindo-se às obras de que tem sido alvo nos últimos anos, o autor complementou que “o mesmo povo anónimo, comunidade de cidadãos crentes, 550 anos depois, contribuiu voluntária e anonimamente para que a igreja matriz fosse recuperada e reunisse as condições estruturais que lhe permitirão atravessar os próximos séculos que se avizinham”.

O historiador disse ainda que para a elaboração da obra consultou 16.536 documentos digitalizados existentes na Torre do Tombo, na Academia Real de Ciências, no Arquivo Distrital de Faro, na Biblioteca da Universidade de Coimbra e no Centro de Documentação Municipal de Portimão, lembrando serem registos paroquiais e outros documentos da Igreja e das suas confrarias que em 1901 foram nacionalizados e que agora devolveu ao pároco da matriz de Portimão. “Estes documentos são da Igreja por direito próprio, pelo que hoje, ainda que em formato digital, regressam para onde nunca deveriam ter saído”, afirmou.

Esta devolução deu o mote para que lançasse um desafio ao padre Mário de Sousa, pedindo-lhe que crie no Centro Paroquial “um espaço de arquivo digital para que os estudantes e investigadores possam realizar trabalhos sobre a igreja matriz com maior facilidade, enriquecendo desse modo o conhecimento coletivo”.

O padre Mário de Sousa destacou a responsabilidade de deixar às gerações o conhecimento e o apreço por aquela que é a “casa da verdadeira Igreja”, “aquela feita das pedras vivas” que ali se reúnem “pedindo ao Senhor que as ajude a ser melhores”. “550 anos que recebemos de herança e que somos convidados a legar àqueles que hão-de vir para que outros 550 anos de cultura e de fé possam atravessar os tempos e, como esta igreja construída no lugar mais alto da cidade, possa iluminar como um farol a vida de todos os portimonenses”, afirmou.

Também a presidente da Câmara de Portimão evidenciou a “obrigação de deixar às novas gerações aquilo que foi construído ao longo dos séculos”. “Se ainda ninguém até hoje tinha feito esse estudo e esse levantamento ainda bem que foi feito porque assim nós podemos transmiti-lo às gerações atuais e eles ficarão a com responsabilidade de as transmitir às gerações vindouras”, afirmou Isilda Gomes, desafiando o autor a desenvolver um conteúdo multimédia sobre aquela igreja para incluir na história de Portimão divulgada aos alunos do concelho através dos tablets da rede de bibliotecas escolares.

A autarca considerou ainda que a primeira monografia dedicada à igreja matriz de Portimão “não é uma obra qualquer”. “Em Portimão não há tantos monumentos assim que nos mereçam este estudo aprofundado, mas esta casa merece. Este é um instrumento que nós teremos que ter disponível para que os turistas que queiram conhecer melhor esta casa o possam fazer”, afirmou na sessão que contou também com a presença da diretora regional de Cultura do Algarve, Alexandra Gonçalves, e da diretora do Arquivo Distrital de Faro, Maria Luísa Pereira, e com a atuação da Orquestra Juvenil do Conservatório de Portimão Joly Braga Santos.

O vigário geral da Diocese do Algarve, em representação do bispo diocesano, congratulou-se com a obra que ajuda a perceber a raiz da Europa. “Quão importante seria ouvirem este autor alguns pseudo-cultos da praça europeia para poderem compreender que qualquer ataque ao Cristianismo é um ataque ao povo e à raiz europeia”, afirmou o cónego Carlos César Chantre, considerando que “enquanto os europeus não redescobrirem esta raiz horizontal e vertical, a Europa não levantará a cabeça”.

A publicação, intitulada “Igreja Matriz de Portimão – 550 anos de História (1467-2017) com chancela da Arandis Editora, está à venda na própria igreja.

 

Por: Folha do Domingo