por João Carlos Santos | Licenciado em Património Cultural - Historiador | jcsantos87@gmail.com

O Jornal Correio do Sul, na edição de 14 de Maio de 1922, após receber diversas cartas de protesto e indignação por parte de residentes da freguesia e povoações vizinhas, em relação à demora da intervenção nos arrozais da Quinta de Quarteira, dado que estes ameaçavam despovoar as redondezas devido aos perigos para a Saúde pública que representavam. Tratavam-se de águas estagnadas ideais à proliferação dos indesejáveis mosquitos.

Não sabemos quantos habitantes da Freguesia de Quarteira terão sucumbido a esta terrível doença. No entanto, não deixa de ser coincidência, a realização de festejos de S. João, tendo em vista a angariarão de recursos financeiros para a construção do cemitério de Quarteira. A Junta de Freguesia, em deliberação de 2 de Julho de 1922, dá informação que tratou da arrematação da segunda empreitada do cemitério de Quarteira, onde se reforçou: alvenaria só a ser utilizada no portão frontal, e alvenaria de tijolo, massa de areia e cal para muros de dois metros de altura. (Actas das Reuniões da Junta de Freguesia de Quarteira (1918), Vol.I, Faro, Quarteira.)

Em 5 de Abril de 1923, nova notícia acerca da “plantação dos arrozaes”, onde são tecidas severas críticas a grupos de influência próximos de meios de comunicação que tentados pela riqueza proveniente do arroz, igualmente roubavam a única riqueza dos pobres que trabalhavam aqueles fétidos e pestilentos campos de arroz da Quinta de Quarteira: a sua saúde. Segundo a notícia, a cultura do arroz, implementada há poucos anos e logo a seguir ao pós guerra, veio enfraquecer estas gentes, leia-se: “população laboriosa e forte que antigamente se empregava no trabalho sádio do lanço das redes ou na monda das searas e que hoje passa a vida na cama, definhando-se num doloroso e persistente combate com as febres sezonáticas.”

Este terrível cenário que dominava tanto Quarteira como as povoações em redor não assistia a melhoras. O Governo demorava em dar resposta a esta emergência, enquanto isso os infectados lutavam no limiar da vida e da morte. A notícia termina da seguinte forma: “Mas que desgraçada terra é esta, então, onde a saúde e a vida de tantas criaturas se não sobrepõe ao restricto interesse financeiro de um empresa particular?”.