Portugueses ainda desconhecem riscos e formas de transmissão das hepatites.

Lisboa, 25 de julho de 2017 - Os portugueses não estão despertos para o problema das hepatites ou tão pouco informados. A garantia é dada por Arsénio Santos, coordenador do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), a propósito do Dia Mundial da Luta contra as Hepatites, que se assinala a 28 de julho e que, este ano, tem como lema a eliminação da hepatite viral.

“Há, hoje em dia, maior interesse das pessoas por estes temas, mas a informação que têm é muitas vezes incompleta e distorcida”, reforça o especialista da SPMI que, entre as maiores lacunas na população nacional, destaca “o conhecimento muito genérico e superficial destas coisas, havendo ainda grande desconhecimento acerca dos riscos e formas de transmissão das hepatites. Esse desconhecimento é grande, sobretudo nos jovens, podendo a solução passar por um ensino destes temas mais profundo, preciso e rigoroso, a nível das escolas. Na divulgação que é feita para a população em geral é preciso que sejamos mais diretos, claros e assertivos, pois constato que nem sempre a mensagem que passa é a mais correta”.

A hepatite viral é uma das principais causas de morte no mundo, responsável por 1,34 milhões de óbitos por ano, tantos quanto os provocados pelo VIH/sida, a tuberculose ou a malária. Contas feitas, Hepatite B e Hepatite C são responsáveis por 80% dos casos de cancro do fígado em todo o mundo. Por cá, a Hepatite A “tem atualmente uma incidência mais baixa do que no passado, devido à melhoria das condições higieno-sanitárias”, refere o especialista. No caso das hepatites B e C, “segundo o último estudo realizado entre nós, estima-se que, em Portugal, tenham Hepatite B cerca de 1,4% das pessoas e 0,5% tenham hepatite C. Embora o número de novos casos diagnosticados tenha vindo a diminuir nos últimos anos, o nosso objetivo deverá ser a redução ao mínimo de novas infeções”.

Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites une organizações de doentes, governos, profissionais de saúde, indústria e público em geral à volta do mesmo objetivo: divulgar informações sobre as doenças e ajudar na sua eliminação. No entanto, Arsénio Santos considera que “pensar na erradicação da Hepatite C a médio prazo é uma perspetiva demasiado otimista. Isto porque, apesar dos programas de rastreio, do maior número de diagnósticos e do aumento progressivo dos doentes tratados, será por enquanto impossível impedir que haja novos casos de infeção”. Apesar de tudo, espera “que venhamos a verificar na próxima década uma diminuição drástica do número de novos casos de infeção e de complicações da doença crónica”.

Aqui, “um rastreio universal a toda a população seria a melhor forma de conseguir identificar a maioria dos casos de infeção, pois é a única que permite diagnosticar os casos em que aparentemente não existem fatores de risco ou os mesmos não são assumidos ou valorizados pelo próprio”. Mas porque, assinala o especialista, “esta medida teria custos dificilmente comportáveis pelo Serviço Nacional de Saúde e teria provavelmente um rendimento relativamente baixo”, em alternativa, defende a continuação do rastreio junto dos “grupos em que a infeção tem elevada prevalência, mas que são de abordagem difícil”, como os utilizadores ativos de drogas injetáveis e a população prisional”.

Torna-se necessário, segundo o especialista, fazer uma atuação de “forma mais sistemática e organizada no sentido de atingir o maior número possível de indivíduos no mais curto espaço de tempo, em conjugação com uma maior sensibilização dos médicos para a suspeita diagnóstica”. No fundo, para todas as hepatites, o mais importante é “diagnosticar o mais possível, tratar todos os casos, impedir a transmissão!”.

 

Por: Guess What