Ana Pedro, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor

Dia dos Avós assinala-se a 26 de julho

A dor crónica é comum no idoso e tem um impacto significativo na sua qualidade de vida e dos seus familiares. De acordo com a Direção-Geral da Saúde, a dor crónica moderada a intensa afeta 83 por cento dos idosos institucionalizados em lar e 50 por cento dos idosos que vivem na comunidade. Estas percentagens estão relacionadas com a elevada prevalência de algumas patologias nesta faixa etária, nomeadamente a patologia degenerativa da coluna, osteoartrose, cancro, AVC, entre outras.

Numa fase em que os avós assumem um papel fundamental na educação dos netos, algumas reações podem ser sinal de dor no idoso. É frequente o idoso assumir algumas mudanças comportamentais quando existe a presença de dor. Não falar com os netos, deixar de interagir e/ou participar nas suas brincadeiras ou até evitar estar com os netos podem ser um sinal de dor nesta faixa etária. Nestes casos, o regresso à interação com os netos e a disponibilidade para participar nas suas brincadeiras podem representar uma recuperação da sua qualidade de vida.

A dor é uma experiência subjetiva, muitas vezes difícil de descrever por parte do doente. Deste modo, a sua avaliação deve ser um processo rigoroso e exigente envolvendo o próprio, o profissional de saúde e, em alguns casos, os familiares/cuidadores.

No caso do idoso, a avaliação da dor pode tornar-se uma verdadeira batalha, quando as dificuldades de comunicação se interpõem, muitas vezes causadas por patologias como a demência, entre outras. Nestas situações, o cuidador assume um papel fundamental e o seu testemunho pode ser a chave para a correta avaliação da dor do doente.

Quando não existem barreiras na comunicação, o processo remete para uma escala de autoavaliação da dor que é complementada pela história clínica detalhada do doente, um exame objetivo rigoroso, exames complementares e uma avaliação biopsicossocial.

O profissional de saúde deve identificar a presença de dor no idoso em todos os contextos, seja em consulta, urgência ou internamento. Deve, igualmente, avaliar a dor por rotina, considerando que o idoso pode não a manifestar. Por vezes, os idosos utilizam expressões como “formigueiro” e outras para exprimir as sensações dolorosas, exigindo do profissional de saúde uma atenção redobrada a todo o discurso do doente, que é passível de ele próprio ser indicativo de dor, embora o doente não o identifique como tal.. Se o idoso colaborar deve utilizar-se a escala numérica ou qualitativa, recorrendo sempre à observação completa do doente, principalmente quando a comunicação se assume como um obstáculo. Estes são alguns métodos utilizados pelos profissionais de saúde para identificar a presença de dor no idoso.

Com o intuito de controlar a dor, melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida do idoso, deve dar-se preferência aos tratamentos não farmacológicos, associados a medicamentos sempre que necessário. Entre as terapêuticas não farmacológicas encontramos o exercício, que deve ser adaptado a cada caso, a aplicação local de calor ou frio, a massagem realizada por profissionais, a diatermia (produção de calor através de corrente elétrica) e ultrassons, a imobilização temporária, a cirurgia, a estimulação elétrica nervosa transcutânea, a formação do doente e cuidador, a aplicação de estratégia cognitivas individuais ou em grupo e a promoção da distração do doente através de técnicas como a música ou a leitura.

No que refere à terapêutica farmacológica, os analgésicos continuam a assumir-se como preferenciais. As doses devem ser ajustadas, considerando a patologia associada, vulnerabilidade e fragilidade do idoso, de forma a otimizar o controlo da dor e minimizar os efeitos secundários.