por Luís Pina | aragaopina59@gmail.com

Era o dia das corridas! A cidade era literalmente invadida pelo entusiasmo de centenas, senão de milhares de visitantes que se juntavam aos residentes naquela louca euforia dos aficionados dos automóveis. O roncar dos motores fazia-se ouvir pelas ruas e avenidas que integravam um circuito mais ou menos improvisado mas nem por isso menos competitivo e seguro, segundo os padrões da época. A festa do desporto é contagiante e aviva paixões, que naquelas paragens tinham por cenário a airosidade, o sol, o calor e o primado do salutar convívio das gentes sobre o conhecimento propriamente dito das máquinas e marcas em competição. Nas manchetes dos jornais, de publicações da especialidade e na rádio desenhava-se a “guerra”, pacífica e confinada a um longo fim-de-semana entre pilotos e escuderias tão consagradas como a Lola, a Porche, a Lotus, o lendário Ford GT 40 ou a Alfa Romeu, em “simpática concorrência”, a outro nível, com os familiares Ford Escort, Cortina, os Lancia Fúlvia, os Saab Sonett, os NSU, os Sinca, ou os atrevidos e energéticos Copper S. As corridas de automóvel eram mesmo, na altura, dos eventos desportivos mais populares e concorridos em Angola, e delas recordo-me de nomes da “berra” como Henrique Cardão, António Peixinho, Emílio Marta, Herculano Areias, Corte Real Pereira, “Caputo”, entre outros. Do calendário de provas aquela era especial, inovadora e mais desafiadora: Eram as 6 Horas do Huambo, o grande acontecimento! Verdadeiras multidões acumulavam-se pelas ruas, pelas varandas, pelos jardins ou onde quer que lhes permitisse desfrutar da longa maratona e até do característico e sugestivo cheiro a borracha e a combustíveis queimados das máquinas em ação. Naquele ano de 1969 chegou à frente um carrinho branco, na verdade um carrão, forte e competitivo: o BMW 2002 TI Shoriitzer, (como pude posteriormente confirmar). Os louros foram para a dupla Albio Pinto / José Lampreia! Alguém se lembra? Na ocasião, minha mãe apressou-se a fazer-me notar que se tratava de louletanos, “de sua longínqua terra natal”, a mesma que me viria mais tarde a acolher. Na mesma em que, volvidos 48 anos, (!), decidi evocar, homenageando de algum modo aquela dupla de craques do volante que venceu as 6 Horas do Huambo. Foi uma memorável vitória louletana, naquele ano de 1969. Ele há coisas simpáticas de recordar, ou não há?