por Carlos Manso | manso.carlos@hotmail.com

Desde 2007, que já foram injetados nos Bancos pelo Estado cerca de 13 Mil Milhões de Euros. Como se diz na minha terra, é muita massa.

Ao longo deste período, sob o pretexto do chamado risco sistémico, justificou-se o salvamento de um setor que achávamos que funcionava bem, que era bem gerido e cujos mecanismos de análise de risco que nos ´´vendiam´´ garantiam a sua estabilidade.

Quem não viu, a certa altura a sua vida profissional e pessoal, os seus rendimentos e património e até mesmo sua saúde a ser escrutinada, pela Banca, até ao mais ínfimo pormenor sob o pretexto da análise rigorosa que visava garantir que possuíamos condições para cumprir as nossas obrigações?

Será que estávamos todos enganados, quando lhes concedíamos a incontestável credibilidade? Ao que parece nem os famosos gestores da Banca Portuguesa eram assim tão geniais, nem os critérios e análises de riscos utilizadas eram assim tão exigentes. Talvez para a generalidade dos Portugueses, mas tudo indica que para um pequeno grupo elitista de pessoas e empresas do regime essa realidade não existia!

Após as intervenções do Estado e aumentos de capital garantidos por todos os Portugueses no BPN, BPP, BANIF e BES, pensávamos que o problema estava no setor privado da Banca, mas acordámos violentamente para a realidade da CGD, maior banco Português e de gestão pública.

Após ter apresentado um plano de reestruturação a Bruxelas, que segundo rumores pressupõe redução de pessoal, um elevado aumento de Capital (dizem que não vai custar um cêntimo aos Portugueses, mas não acredito) e reconhecimento de imparidades nos créditos (assumir que vários empréstimos não têm possibilidade de serem cobrados), viu-se envolvida num escândalo, o dos SMS, menor do que aquele que se pretende encobrir, a quem os Bancos Privados e Público emprestaram dinheiro, com que garantias reais e pessoais dos acionistas e para financiar o quê? Se tivesse que especular, até podia afirmar que existem pessoas e empresas comuns a todas as imparidades na Banca.

Mas evitando especular, sabemos que as dividas a reconhecer imparidades na CGD, i.e., empréstimos cuja probabilidade de cobrança do valor total ou parcial em dívida é reduzida e que rondam os 3 Mil Milhões de Euros, se reduzem a cerca de 9 empresas/grupos. Uma parte significativa do aumento de Capital será para provisionar essas imparidades. A CGD falhou redondamente a sua missão de apoiar a economia Portuguesa, em particular as famílias e as PME’s, mas acertou na estratégia de agradar a alguns. Muito poucos, mas conseguiu.

Também engraçado, mas sem piada nenhuma, ficámos a saber que o interessado na compra do antigo BES (agora NOVO BANCO), os Americanos da LONE STAR, reconhece a incapacidade na cobrança de cerca de 200 Milhões de Euros ao empresário que ofereceu 14 Milhões de Euros ao Ricardo Salgado, antigo “Dono Disto Tudo” e dá como perdida essa dívida. Enganei-me, afinal tem piada.

Para finalizar aquilo que mais parece uma comédia mas que infelizmente é a nossa realidade, o Banco de Portugal, pediu ao Tribunal Constitucional para que a lista de empréstimos alvo de imparidades da CGD, não sejam tornados públicos, por forma a defender a estabilidade do sistema financeiro Português.

Não tenhamos ilusões, todo este dinheiro não desapareceu, circulou, mudou de mãos e entre várias coisas, gerou cumplicidades entre os vários responsáveis dos Bancos e dos Clientes. Parece que não vamos saber quem esteve envolvido, parece que ninguém vai ser responsabilizado, parece que nunca vamos saber o porquê destas operações, parece que ninguém quer saber disto, parece que o mais importante são os SMS.

Pensem nisto.

 

Carlos Manso

Vice-Coordenador da Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

Ex- Presidente do PS Olhão