«Teletrabalho aumentou, mas agora as empresas precisam dos seus m2 para o regresso», aponta ao idealista/news Frederico Mondril, da CBRE.

A Covid-19 virou o mundo do avesso.

 Apareceu «do nada», sem avisar, e teve (e está a ter) impacto em todos os setores de atividade, nomeadamente no setor imobiliário.

O segmento de escritórios não escapou aos danos colaterais da pandemia, nomeadamente devido ao fenómeno do teletrabalho, que ganhou força nos últimos tempos.

Uma tendência que «é incontornável», diz ao idealista/news Frederico Mondril, Associate Diretor de Propety Management na consultora CBRE, acrescentando, no entanto, que os «espaços físicos das sedes das empresas não vão perder o seu papel fundamental para o negócio das mesmas».

«A relação das pessoas com os escritórios onde trabalham vai mudar e as empresas têm de ser rápidas a pensar em novas maneiras de dar resposta às necessidades que surgem.

As ferramentas de trabalho remoto, novas formas de contacto e de gestão de recursos obrigaram a uma adaptação a esta nova realidade que poderá ter impacto nos escritórios, mas mais na conversão de espaço do que nos metros quadrados (m2) das suas áreas”», refere o responsável, adiantando que «o teletrabalho aumentou nas últimas semanas, mas que agora as empresas precisam dos seus m2 para o regresso».

De acordo com Frederico Mondril, «a mudança de paradigma trazida pela pandemia para o mercado de trabalho orientou o trabalho para uma crescente cultura de mobilidade, com efeitos e consequências na estrutura do espaço físico dos escritórios do futuro». 

«As tendências do ‘workplace’ e da flexibilidade do trabalho são inevitáveis e todas as empresas vão certamente reinventar-se para assegurar os seus negócios e reter os seus talentos.

 Estas mudanças antecipam outras tendências (...), como o facto de as empresas estarem a criar verdadeiros ‘experience hubs’, onde é possível encontrar zonas com diferentes finalidades de trabalho, de lazer e de colaboração para tornarem o escritório num espaço atrativo e natural, que motiva a empatia, a criatividade, e até o compromisso e a cultura corporativa·», analisa o responsável, antecipando que «a conversão que se prevê nos escritórios vai transformar as sedes das empresas em algo semelhante a Company Clubs, onde os colaboradores, trabalhando remotamente ou não, são os ‘club members’, sendo lá o local de preferência para se encontrarem.

A pandemia acelerou o teletrabalho e isso é incontornável quando pensamos no futuro da atividade empresarial, no entanto, o espaços físicos das sedes das empresas não vão perder o seu papel fundamental para o negócio das mesmas», explica.

Regresso ao «novo normal» em segurança

Nenhum dos 45 edifícios de escritórios geridos pela CBRE na grande Lisboa e no grande Porto encerraram desde o início da pandemia.

São disso exemplo imóveis arrendados a apenas um inquilino, como o Álvaro Pais, em Lisboa, e a vários inquilinos, como o Fontes Pereira de Melo 6, em Lisboa, e o D. Manuel II, no Porto, assegura Frederico Mondril, frisando que a consultora apoiou e seguiu, «em todos os momentos, as indicações do Governo e da Direção Geral de Saúde (DGS), cumprindo e adequando as medidas de segurança e higiene, de forma a garantir o funcionamento mínimo» dos edifícios.

E estará o regresso dos trabalhadores ao «novo normal» a acontecer de forma segura?

 «Desde maio que se tem verificado o gradual regresso dos colaboradores das empresas ocupantes, verificando-se um incremento relevante em junho.

Em maio contávamos com cerca de 1.100 colaboradores nos edifícios.

Atualmente o número ultrapassa as 2.200 pessoas, crescendo gradualmente.

No total dos edifícios geridos pela CBRE pré-Covid-19 contavam-se aproximadamente 13.500 colaboradores nos mesmos», responde Frederico Modril, acrescentando que os números crescem lentamente semana a semana.

Para assegurar o regresso em segurança ao escritórios, a CBRE pôs em prática um conjunto de medidas nos edifícios por si geridos, até porque os colaboradores «vão querer sentir-se seguros dentro dos edifícios para os quais vão trabalhar diariamente», diz, explicando, depois, o que foi feito: 

«Em termos de higiene e segurança, garantimos o reforço da limpeza dos edifícios, principalmente em zonas de convergência e pontos de contacto, disponibilizamos dispensadores de gel de base alcoólica nas várias zonas comuns, colocámos barreiras físicas na receção, onde são disponibilizados equipamentos de proteção individual (máscaras) sempre que necessário, e asseguramos a automatização das portas e o controlo da entrada de visitantes através de um elemento da equipa de segurança dedicado», revela o gestor.

Por outro lado, e para garantir a melhor circulação no interior dos edifícios, «foram desbloqueadas as escadas de evacuação para acesso a outros pisos, sendo a prioridade dos elevadores dada a pessoas com mobilidade reduzida, grávidas e idosos.

Sinalética indicativa de distanciamento social nas zonas sanitárias e em zonas de espera informam sobre as regras estabelecidas a esse nível, bem como as de higienização das mãos.

 É uma preocupação das pessoas também a qualidade do ar interior dos edifícios nesta fase, em particular no que toca aos equipamentos de AC.

Nesse sentido, a CBRE assegura que a ventilação do ar dos edifícios é devidamente ajustada para garantir a qualidade permanente do ar interior».

Frederico Mondril destaca ainda o facto da CBRE ter preparado e disponibilizado um kit de boas-vindas para cada um dos colaboradores dos seus edifícios.

Trata-se de «um ‘Welcome Safety Kit’ com desinfetante e máscara que tem como objetivo dar as boas vindas a todos no regresso ao trabalho, mas também assegurar que têm acesso às normas impostas de forma a protegerem-se a si e aos outros», adianta, salientando que já foram entregues 200 kits.

Uma pessoa infetada com Covid-19, e agora?

Segundo o Associate Director de Propety Management da consultora CBRE, houve conhecimento, desde o início da pandemia, de um caso de um colaborador de uma empresa instalada num edifício gerido pela consultora que foi confirmado como estando infetado com Covid-19. 

Como se procedeu nesta situação?

 O consultor revela que, «em colaboração com a empresa ocupante à qual o colaborador pertence”, foi comunicada a situação a todos os restantes inquilinos, tendo o colaborador sido “colocado em acompanhamento» e não frequentado as instalações.

Foi ainda feita uma «desinfeção generalizada das áreas comuns do edifício», como por exemplo lobbies, elevadores e escadas.

 «Preventivamente foi também feito um arejamento natural das zonas comuns do edifício e forçada para 24h a ventilação das frações.

Foi igualmente confirmado que esta empresa adotou as medidas adequadas junto da restante equipa por forma a minimizar risco de existência de outros casos e potencial de contágio aos frequentadores do edifício», explica.

Ocupação de escritórios abrandou com a pandemia?

Não...

Quando questionado sobre se a CBRE estaria, de alguma forma, a sentir os efeitos da pandemia no negócio do arrendamento de escritórios, nomeadamente em Lisboa e no Porto, Frederico Mondril responde de forma clara: «O que sentimos é que mesmo durante o período do estado de emergência, tanto a equipa da CBRE como o próprio segmento dos escritórios se mantiveram bastante ativos. 

Vários negócios que tínhamos em curso em Lisboa e no Porto foram concretizados ao longo dos últimos meses, confirmando esses sinais positivos para o setor, mesmo no período tão extraordinário que ainda vivemos».

O responsável afirma, nesse sentido, que pouco mudou face ao período homólogo, pelo menos no que diz respeito à ocupação de escritórios.

«Mantemos elevada taxa de ocupação no portfolio gerido, que não será estranho ao fato da relação de oferta e procura que caracteriza o mercado de escritórios em Portugal apresentar um desfasamento muito grande entre a oferta atual e em ‘pipeline’ de espaços modernos, bem localizados e uma procura desses mesmos.

 Não cremos que o futuro traga significativo impacto nesta ocupação, mesmo com incremento na implementação do regime de teletrabalho nas empresas», conclui.

Por: Idealista