Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

Encontramo-nos já nos finais de janeiro. Mas ainda nos inícios de um ano que desejámos bom e novo. É mesmo assim? Que novidade trouxe este tempo à nossa vida? Será que abandonámos definitivamente o que em nós é velho?

Em que medida, a bondade deste ano, depende de nós, se não somos senhores absolutos do tempo? Na verdade, parece que iniciámos como terminámos: vidas envoltas em permanentes convulsões onde acresce o desencanto, a violência, as guerras, as intrigas políticas, as indiferenças, as reivindicações. Vidas fragmentárias, introvertidas, autorreferenciais. Contemplando o nosso mundo tão belo, mas tão frágil, parece que as sombras e os abismos nos dominam e esmagam, tornando-se senhores e vencedores.

Queremos que seja para todos nós um bom ano, mas o tempo passa vertiginosamente por nós como essa vontade inicial em que emotivamente nos propusemos a recomeços. E tudo parece caminhar no mesmo: vidas rotas, vazias, agora sem identidade ou género, empanturradas de consumismo e seduzidas por um avassalador relativismo axiológico e comportamental.

Vivemos frequentemente invadidos por preconceitos, julgamentos morais, pela condenação ou tendência para tudo desculpar, não raras vezes com atitudes manipuladoras, necessitados de fé e de empatia, de sentirmos e experimentarmos a verdade a partir de dentro dos outros e do Outro.

Donos de um destino sem horizonte, de um presente esquizofrénico, assaltados por militantes insatisfações. Fizemos votos de um bom ano, mas o que ainda nos reveste é, na verdade, pano velho e roto, luzes fabricadas a anestesiarem a nossa visão mais profunda e justa da realidade. Quanta falta de autenticidade e de transparência. De humildade e de verdade. De justiça e amor.

Que mundo e que tempos tão estranhos onde as minorias sentindo-se atacadas e feridas nas suas condutas e os populismos arvorados em profetas de futuro comandam a barca da nossa vida. E prosseguimos, ainda, caminheiros famintos de sentido, roubados na esperança, feridos nos sonhos. Mas aspiramos ao Bom: o bom das coisas, que é conforme ao uso a que são destinadas; o bom de boa qualidade, de competência e eficiência; o bom do que é agradável, útil, saudável; o bom saboroso, perfeito, virtuoso, nobre. Para este “Bom” e para este tempo e mundo precisamos de novo olhar e de escutar! Que tenham a espessura da Palavra que é Luz e Vida.

Precisamos que nos habite a eternidade dessa Palavra que não morre e não passa com o tempo e as culturas para aprendermos a honra das palavras que proferimos; que nos fira essa luz divina a transformar tudo o que somos e realizamos.

Precisamos de aprender a contemplar a verdade que os céus escondem, a contrariar o fatalismo e a mediocridade, aprendendo a cada momento o sentido da confiança, da liberdade, da força da vida.

E só uma coisa é necessária para que o Bom e o Novo timbrem de luz, vida e verdade o nosso tempo, a nossa vida e este ano. Coloquemos a nossa inteligência, o nosso labor e o nosso coração na fonte dessa sabedoria, que nos ajudará a discernir o bem, o bom, o essencial, o necessário, para um ano que desejamos luminoso, bom e novo.