Se tudo corresse como os astrólogos tinham previsto no início do ano seria muito fácil falar e escrever sobre o Algarve desta época estival.

Estariam cá as estrelas de futebol nacional e mundial, os atores mais famosos e conhecidos dos portugueses, os políticos, empresários e demais socialites nacionais e algumas mundiais. Seria um desfilar para ver e ser visto na exclusiva Quinta do Lago, na chique Marina de Vilamoura, nas populares Albufeira e Praia da Rocha, ou ainda, na histórica baixa de Tavira. Era o Algarve como centro do centro do reino nos habituais três meses do ano. Depois?…. Depois passaria, como normalmente, a ser o Algarve que está ao fundo do país, ali mesmo antes do mar, onde é lindo e bom para passar férias, mas que é eternamente esquecido e desconhecido da maioria dos portugueses que o “usam”, mas que teimam em esquecê-lo e desconhecê-lo durante nove meses.

Estes três meses são importantes para todos. Para uns serve para terem o merecido descanso depois de um intenso ano de trabalho; para outros, serve para apanhar o figo, a amêndoa e a alfarroba, que outrora era o ouro algarvio; para outros ainda, serve para amealhar para viver o resto do ano, qual final feliz da fábula de Esopo e tornada popular por La Fontaine: “deixai as cigarras cantarem e dançarem, que nós formiguinhas temos que viver o resto do ano”.

Porém, tudo afinal é diferente este ano. O Zodíaco deve ter mudado de rota à última hora e isto ficou tudo estranho e diferente. Estamos todos sem férias e muitos sem trabalho. Os jogadores estão e vão continuam a jogar. Os políticos estão a decidir o que ainda não decidiram. Os empresários estão aflitos, porque compraram e não têm a quem vender. As socialites ou não têm dinheiro, ou não têm coragem, ou simplesmente não podem chegar cá. Algumas, poucas, as verdadeiramente endinheiradas, estão em luxuosos confinamentos, longe o perigo que ninguém consegue saber bem onde está e alguns nem querem ver.

Mas nós estamos cá. Somos gente como vós. Somos portugueses como todos. Temos medo? Temos. Mas precisamos de todos os que gostam de nós. Todos precisam de todos para viver. E nós precisamos de todos para passar o Inverno com algum “pão”, porque há muito que o figo, a amêndoa e a alfarroba deixaram de ser ouro. O Algarve continua lindo. A água continua quente. As sardinhas já estão gordas. Não há multidões, mas oportunidade para fazer um turismo de excelência. Não há engarrafamentos, mas tempo para visitar estradas lindas e desconhecidas. E sabem que mais? Podem não acreditar, mas no Algarve vive cá gente, portugueses e esperamos por vós! E sim, o Algarve é incrível!

Pe Miguel Neto
Pároco de Tavira e director do setor da pastoral do turismo da diocese do Algarve