Após a análise do projeto, as reuniões tidas com a Câmara Municipal (CM) de Faro e os esclarecimentos prestados pela autarquia questionamos o executivo camarário sobre os seguintes aspetos e apresentam-se as seguintes propostas:

Ocupação do espaço da Mata do Liceu Conforme afirma a CM «A requalificação da Mata do Liceu pressupõe a implementação de uma nova ocupação programática do espaço, onde a componente desportiva, que tem caracterizado a utilização da Mata sobretudo nos últimos anos, e assim assumisse uma maior preponderância».

No entanto, e tal como reconhecem, a Mata já é utilizada para a prática desportiva e existem igualmente outros espaços na cidade dedicados a essa prática – os relvado junto ao Forum Algarve e no Parque de S. Francisco, o Parque Ribeirinho e o Complexo Desportivo Municipal de Faro.

Assim sendo, seria expectável que a opção base do projeto fosse a de reforçar o pulmão verde que a Mata do Liceu representa, ao invés de reduzir esse espaço verde promovendo uma nova «ocupação programática» que vai impermeabilizar áreas e reduzir a área verde da cidade.

Disponibilidade de estrutura verde urbana / habitante De acordo com vários autores, cada habitante de uma cidade tem uma necessidade de, pelo menos, 40 m2 de estrutura verde urbana i .

 Apesar de não termos obtido dados atualizados, de acordo com o Relatório inLUT ii , «a cidade de Faro disporia, em 2015, de 8,8 m2/ de estrutura verde / habitante» iii .

 No projeto aprovado para a Mata, apesar de afirmarem que grande percentagem das árvores a abater estão mortas, outras estão assinaladas para abate apesar de estarem sadias e a contabilidade final indica que a Mata ficará com menos 168 árvores: atualmente contabilizam-se 981 árvores; após a intervenção restarão 813, ou seja, 83% do número inicial.

 A eliminação de 17% do espaço verde da cidade é agravada com o facto de 200 dessas 813 árvores passarem a ser árvores jovens, a plantar durante a intervenção.

Os benefícios das árvores adultas, em termos de evapotranspiração, captação de CO2 e disponibilização de oxigénio, não é comparável com os das árvores em início de vida, facto que se agrava com a necessidade de água que estas novas árvores vão exigir durante anos.

Concluímos assim que ficaremos sem parte dos exemplares de árvores adultas da Mata e que teremos que aguardar vários anos para obter todos os benefícios das árvores a plantar no âmbito da presente intervenção.

 Constatamos igualmente que na cidade de Faro a área de estrutura verde urbana por / habitante representa apenas 22% do desejável e que a execução da «Requalificação da Mata do Liceu» vai agravar ainda mais esta situação.

Face ao acima exposto propomos que, em fase de obra, se encontrem soluções para manter o máximo de árvores existentes e para garantir que no final do projeto a cidade poderá dispor, pelo menos, da mesma quantidade de árvores que a Mata do Liceu tinha antes do projeto; além disso deverá ser encontrada um alternativa ao pavimento de betão desativado proposto para o caminho principal, por exemplo usando saibro estabilizado (tipo de material que foi utilizado nos caminhos do Parque Ribeirinho) que é mais natural e permeável.

Salientamos que o Algarve é a região do país onde mais se fazem sentir os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente pela atual situação de seca severa iv e respetivas perspetivas de agravamento da mesma. Nesse contexto, a redução de 17% da área arborizada da Mata, a impermeabilização de parte da mata pela execução do plano de acessibilidades, o abate de árvores adultas existentes e a implantação de um relvado vai implicar o aumento dos consumos de água, numa altura em que se deveriam estar a maximizar as poupanças de consumo.

Neste entendimento, instamos a Autarquia a encontrar soluções em obra, que evitem os impactos negativos expectáveis desta intervenção na deterioração da qualidade de vida dos cidadãos farenses.

 

Por : O GlocalFaro