Ano de 2025 reforçou tendências na procura por empréstimos habitação. Mas também houve várias mudanças nos juros e na banca.

O ano de 2025 veio confirmar tendências já identificadas no universo do crédito habitação em Portugal. A concessão de novos empréstimos correu a bom ritmo, sobretudo, a taxa mista. Os jovens compraram ainda mais casas com a ajuda da garantia pública, que se somou à isenção do IMT. E as renegociações e amortizações antecipadas voltaram a arrefecer. Mas também trouxe uma inversão de tendências, nomeadamente das taxas Euribor que começaram a subir ligeiramente a partir do verão, embora sem grande impacto nas prestações da casa. Também no que toca à banca houve várias novidades. Descobre tudo.

Euribor caiu até 2% - mas BCE não deu margem para mais

Juros do BCE
 
Christine Lagarde, presidente do BCEGetty images

O início de 2025 voltou a trazer boas notícias para o crédito habitação em Portugal. As taxas Euribor, que arrancaram o ano abaixo de 3%, continuaram a descer a bom ritmo. Diminuíram tanto que, em junho, a Euribor a 12 meses fixou-se em 2,081%, a taxa a 6 meses em 2,050% e a taxa com o prazo mais curto em 1,984%, dos valores mais baixos nos últimos três anos. E esta evolução teve reflexo em baixa nas prestações da casa.

Esta descida da Euribor na primeira metade de 2025 está relacionada com as decisões de política monetária conduzidas pelo Banco Central Europeu (BCE). Nos primeiros seis meses do ano, o regulador europeu liderado por Christine Lagarde seguiu com a sua estratégia de corte dos juros, perante uma inflação controlada em torno de 2% e uma economia fraca. Contam-se quatro cortes dos juros do BCE entre janeiro e junho, colocando a taxa dos depósitos em 2%, a meio do intervalo “neutro” entre 1,75% e 2,25%.

Mas o verão de 2025 foi marcado por uma inversão desta tendência. Logo em julho, as taxas Euribor começaram a dar os primeiros sinais de subida nos prazos mais curtos, o que foi confirmado nos meses seguintes por via de ligeiros aumentos mensais. Tanto assim foi que, em novembro, a Euribor a 12 meses subiu para 2,217%, a Euribor a 6 meses para 2,131% e o prazo mais curto para 2,042%. Estes sucessivos crescimentos dos juros, embora de pequena dimensão, resultaram numa ligeira subida nas prestações da casa.

Isto aconteceu porque a Euribor passou a ter pouco estímulo para voltar a descer, perante a mudança da estratégia do ‘guardião do euro’, que decidiu manter os juros diretores inalterados desde julho até dezembro, também por quatro reuniões consecutivas, numa altura em que a inflação está controlada e as perspetivas económicas melhoraram. Já o futuro dos juros do BCE revela-se incerto, com a própria Lagarde a admitir na última reunião do ano que todas as opções estão em cima da mesa para 2026: a manutenção, corte ou subida dos juros.

Procura de crédito habitação em alta – com jovens em destaque

Jovens a comprar casa em Portugal
 
Freepik

A ligeira subida da Euribor na segunda metade de 2025 parece não ter afetado a concessão de novos empréstimos habitação. Ao longo do ano, sentiu-se um crescimento ainda mais significativo dos novos créditos habitação em Portugal - embora em ziguezague -, com o montante a chegar aos 2.160 milhões de euros em outubro, um novo máximo histórico na série do Banco de Portugal (BdP) que remonta a 2014. A taxa mista continua a ser a principal escolha das famílias, por dar mais estabilidade no início dos contratos e por continuar mais baixa (2,75% em outubro) do que as taxas variáveis indexadas à Euribor (2,83%).

Também se observou, em paralelo, a um crescimento do número de casas avaliadas pelos bancos, com o valor mediano da avaliação bancária a atingir novos recordes mês após mês, num contexto de alta subida dos preços das casas, fator que também contribuiu para elevar o montante médio dos pedidos de empréstimo habitação no último ano. 

Toda esta dinâmica tem influenciado o montante total de créditos habitação em vigor em Portugal (novos e existentes), tendo o valor subido para 109.100 milhões de euros em outubro, representando um aumento homólogo se 9,4%. Aliás, o BdP assinalou que o stock de empréstimos para habitação acelerou em outubro pelo 22.º mês consecutivo.

 

Esta alta procura por crédito habitação tem sido alimentada por um conjunto de fatores, como juros acessíveis e as condições mais favoráveis da banca devido à alta concorrência (apesar de começar a subir os preços do financiamento no final do ano). Além disso, o processo tem sido muito facilitado por intermediários de crédito, que reforçaram o seu papel na habitação.

A par de tudo isto, os jovens até aos 35 anos passaram ter mais um incentivo para comprar a sua primeira casa, além da isenção do IMT e Imposto do Selo. No início do ano começaram a ser concedidos empréstimos com garantia pública do Estado, que tem tido elevada adesão até agora. Tanto assim foi que estes jovens passaram a representar mais de metade dos novos contratos de crédito habitação própria e permanente realizados no país.

Renegociações e amortizações antecipadas em queda

 
 

O clima favorável em torno do crédito habitação, pautado por juros acessíveis e baixos spreads, acabou por não incentivar as famílias a renegociar os seus empréstimos da casa. O montante de renegociações foi caindo no país atingindo o mínimo de quase três anos em junho de 2025, de 354 milhões de euros. E só a partir desse mês é que esse montante voltou a subir ligeiramente – coincidindo com os primeiros sinais de aumento da Euribor – terminando outubro nos 507 milhões de euros, segundo os dados do regulador português.

Uma tendência semelhante foi observada nas amortizações antecipadas de crédito habitação. Depois de terem atingido um pico em dezembro de 2024, os reembolsos totais e parciais foram sendo cada vez menos expressivos no país, embora com oscilações. Em outubro, as amortizações totais representaram 0,65% do valor total de empréstimos para habitação própria, enquanto os reembolsos totais pesaram apenas 0,08% neste montante, revela o BdP.

Houve, assim, menos famílias a aproveitar para amortizar os seus créditos habitação de forma antecipada, numa altura em que se sentem mais confortáveis em pagar as suas prestações da casa. E, portanto, também houve menos pessoas a aproveitar a isenção da comissão por amortização antecipada aplicada aos créditos habitação a taxa variável, uma medida que deverá terminar em 2026, uma vez que as propostas de lei para estender esta isenção foram chumbadas no Parlamento.

Novidades sobre a banca portuguesa em 2025

Banco de Portugal
 
Álvaro Santos Pereira, governador do Banco de PortugalGetty images

O ano de 2025 também trouxe uma série de novidades para a banca portuguesa. Desde logo, Mário Centeno deixou de ser o governador do BdP, cargo que passou a ser ocupado pelo economista Álvaro Santos Pereira desde outubro. Mesmo antes de deixar a liderança do banco central, Centeno viu-se envolvido em polémicas sobre o verdadeiro custo da nova sede do BdP em Lisboa.

Já sob a nova liderança, o BdP passou a obrigar os bancos portugueses a ter uma almofada financeira contra uma eventual crise na habitação e passou também a fiscalizar a venda de créditos malparados pelas instituições financeiras. Por sua vez, os intermediários de crédito contam com novas regras de publicidade desde julho e está ainda em curso a revisão do regime jurídico da profissão.

Este ano foi marcado também por novidades sobre o cartel da banca, como a prescrição de coimas que ascendiam a 225 milhões de euros. E o Tribunal Constitucional declarou o imposto adicional sobre a banca inconstitucional, com o Estado a ter de devolver aos bancos cerca de 200 milhões de euros.

Por Idealista News